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A ousadia de três anos atrás, que colocou Curitiba em destaque no cenário nacional e internacional da jornada do Dia sem Carro, cede lugar hoje a um evento bem mais modesto. O tráfego de veículos será bloqueado a partir das 6 horas em três quadras da Rua Barão do Rio Branco, entre a Avenida Marechal Deodoro e a Travessa Alfredo Bufren, no Centro da capital. A passagem de carros ficará proibida até as 19h30.

Em 2003, a capital paranaense inovou ao impedir o acesso de veículos particulares em 72 quadras do anel central e outras 14 quadras nos bairros – um recorde. Só no centro foram 7 mil metros quadrados de área interditada – apenas táxis, ônibus e ambulâncias puderam furar o bloqueio. Cerca de 84 mil veículos deixaram de circular naquele 22 de setembro – uma redução de 40%, de acordo com informações da prefeitura na época.

"Foi o Dia sem Carro mais ousado de todos os que já foram feitos no Brasil, sem sombra de dúvida. Teve uma repercussão muito grande na época", conta Mailla Virgínia de Farias Soares, uma das coordenadoras da jornada brasileira do Dia sem Carro e conselheira do Instituto Rua Viva, de Belo Horizonte, entidade que desde 2001 incentiva as cidades brasileiras a aderir ao evento.

Inspirado em uma iniciativa francesa, de 1998, o Dia sem Carro ocorre hoje simultaneamente em outras 51 cidades do país e em outras 1.293 ao redor do mundo. O objetivo é provocar uma reflexão sobre a presença exagerada de automóveis nas ruas das grandes cidades, e conscientizar as pessoas sobre os efeitos disso na qualidade do ar, estimulando-as a utilizar outros meios de transporte, como bicicletas, ônibus e até caminhadas.

Segundo Mailla, a segunda versão do evento em Curitiba, que ocorre hoje com o bloqueio de apenas uma rua, vai perder um pouco do impacto de 2003. "Mas a mensagem de conscientização, que é o mais importante, não se perderá", acredita, lembrando que a organização internacional da jornada recomenda que uma área da cidade seja bloqueada.

Para ilustrar, ela cita o exemplo de Bogotá (capital da Colômbia), onde duas vezes por ano é feito um Dia sem Carro com o bloqueio de todas as ruas do anel central. A maioria das cidades brasileiras participantes vai fechar poucas ruas: Cuiabá (MT) e Florianópolis (SC), por exemplo, vão bloquear três vias cada. Em São Paulo, nenhuma será obstruída.

O especialista em trânsito Garrone Reck, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acha o Dia sem Carro uma experiência interessante, mas observa que a versão 2006 em Curitiba peca pela falta de ousadia. "Tinha que ser algo de mais impacto, como fechar uma BR-116, por exemplo. Claro, a gente sabe que isso não é possível, mas o efeito seria muito maior", diz. Ele acredita que a realização do evento deveria vir acompanhada de outras medidas para estimular que os motoristas deixem o carro em casa, como promoções na tarifa de ônibus ou na corrida de táxi.

O diretor-presidente da Urbs, que gerencia o trânsito em Curitiba, Paulo Schmidt, diz que a opção por bloquear uma única rua foi tomada para que a adesão ao evento seja natural e não forçada. "Será um dia de conscientização", afirma.

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