Morte de menina chocou o país
No dia 18 de maio de 1973, um crime ocorrido em Vitória (ES) chocou o país. A menina Araceli Crespo, 9 anos, foi encontrada morta e violentada e seus agressores nunca foram punidos. A data se tornou um símbolo na luta contra a violência e desde 2000 passou a ser o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil. A menina desapareceu quando voltava do colégio. Seu corpo foi encontrado apenas seis dias depois. Os suspeitos do crime eram pessoas influentes na cidade na época e há relatos de corrupção de policiais. A mãe da menina também era envolvida com traficantes de drogas.
No combate à agressão contra crianças e adolescentes, um dos maiores problemas é a subnotificação. Dados do disque-denúncia nacional mostram que, desde 2008, houve no Paraná 5,5 mil denúncias no entanto, apenas no ano passado, em Curitiba, foram atendidos 4,1 mil casos cujas características apontam para situações de agressão. Os números revelam que ainda existe dificuldade em expor o problema. Com isso, a violência se torna um assunto privado, impedindo muitas vezes a punição do agressor. Para combater a subnotificação, a Secretaria de Estado da Infância e da Juventude lança hoje a campanha "Qual a marca que você quer deixar", incentivando a população a denunciar qualquer tipo de maus-tratos.
A grande dificuldade apontada por especialistas é que a violência contra crianças e adolescentes seja sexual, física ou psicológica ocorre majoritariamente no ambiente doméstico e é praticada por pessoas conhecidas da vítima. Para a promotora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente Luciana Linero, as campanhas são uma forma de a população se comprometer sem medo de represálias. "A denúncia é a forma mais fácil de o poder público saber da violência que ocorre dentro de casa. As crianças não têm como pedir socorro", afirma. Há mecanismos que possibilitam a denúncia anônima.
A secretária Thelma Alves de Oliveira diz que a ideia central da campanha é que todos deixam marcas nas crianças, sejam elas positivas ou negativas. "A violência deixa marcas físicas e psicológicas profundas. Queremos que todos reflitam sobre as consequências de seus atos", afirma. A campanha se baseia em anúncios veiculados em rádios e televisões, além de cartazes, para que a população denuncie e colabore.
A proteção das crianças esbarra também na falta de estrutura estatal. No Paraná há apenas duas delegacias especializadas na investigação de crimes contra a infância, localizadas em Curitiba e Foz do Iguaçu. Além disso, há somente seis varas exclusivas para esta área. Isso significa que, além da subnotificação, falta investigação e punição dos agressores, o que pode desestimular as denúncias. "A criança acaba abrigada pelo Conselho Tutelar e afastada da família, quando o agressor é quem devia deixar a residência. Isso causa um trauma ainda maior", diz a promotora Luciana Linero.
A ex-presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Paraná (OAB-PR) Márcia Caldas explica que ainda há poucos programas de qualidade para atender meninos e meninas vítimas de maus-tratos. "Sempre faço um inventário nesta data e me assusto com as estatísticas de violência. Não há prioridade no orçamento, programas de auxílio e tratamento psicológico e psiquiátrico. Será difícil comemorar algo antes da próxima década", avalia.
Serviço:
Para denunciar, basta ligar para os números 181 (estadual) ou 100 (nacional). Não é necessário se identificar.
Prejuízo recorde ressalta uso político e má gestão das empresas estatais sob Lula 3
Moraes enfrenta dilema com convite de Trump a Bolsonaro, e enrolação pode ser recurso
Carta sobre inflação é mau começo para Galípolo no BC
Como obsessão woke e negligência contribuíram para que o fogo se alastrasse na Califórnia
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora