Pelo menos quatro crianças são vítimas de maus-tratos diariamente em Curitiba. Até o fim de outubro, 1.479 casos de violência infantil tinham sido registrados no Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima de Crime (Nucria). "Esse número é muito maior. Estima-se que apenas um a cada 20 casos é denunciado", diz a delegada Ana Cláudia Machado. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) ainda indica que cerca de 10 milhões de crianças são submetidas a agressões físicas, sexuais e psicológicas em todo o país.

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Com o objetivo de conquistar o apoio da classe médica para combater esse tipo de abuso será lançada hoje, em Fortaleza (CE), durante o 38.º Congresso Brasileiro de Ortopedia, a campanha "Pra Toda Vida – A Violência Não Pode Marcar o Futuro das Crianças". A iniciativa é do Hospital Pequeno Príncipe e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). "Queremos capacitar os médicos a reconhecer sinais de maus-tratos e motivar que eles façam a notificação dessas ocorrências", comenta a diretora de relações institucionais do hospital, Ety Cristina Forte Carneiro.

Serão distribuídos folderes e cartilhas, elaborados para cada especialidade médica, com orientações sobre como identificar atos de violência. "Iniciamos o trabalho com ortopedistas, mas vamos expandi-lo para pediatras, cirurgiões, ginecologistas, radiologistas", conta Ety. A intenção é dar continuidade ao trabalho nas escolas. "Esse é só o começo de uma grande campanha. A gente quer levar essa questão para toda a sociedade", diz a diretora.

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De acordo com a delegada Ana Cláudia, a violência física lidera o ranking de denúncias. Em seguida aparecem casos de violência sexual, como estupro e atentado violento ao pudor. "Essa parceria com os médicos é essencial porque 90% dos casos acontecem em âmbito familiar e é difícil que cheguem até nós. Quando chegam, eles vêm por meio de vizinhos, médicos e professores", relata a delegada.

"O reconhecimento de situações que podem colocar em risco as crianças é uma obrigação médica. Cerca de 50% das crianças que sofrem maus-tratos têm lesões ósseas", informa o ortopedista Luiz Antônio Munhoz da Cunha. Nos hospitais, lesões incompatíveis com a história contada pelos pais podem ser um indício de violência doméstica. Já em escolas, o abuso pode ser refletido por meio de alterações de comportamento da criança e diminuição do rendimento, além de distúrbios de alimentação ou de relacionamento. "Às vezes, as marcas psicológicas são mais profundas que as físicas", diz a diretora do Pequeno Príncipe.