Uma mobilização de professores, estudantes e milícias digitais tenta impedir a exibição do documentário "O Fim da Beleza", da empresa de mídia Brasil Paralelo, no salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na noite desta quinta-feira (3). O reitor da universidade, Ricardo Marcelo Fonseca, mesmo sem conhecer o conteúdo do vídeo, defendeu a liberdade de expressão dos alunos e o direito de utilizar as dependências da instituição para esse fim.
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"O Fim da Beleza" retrata mudanças nas manifestações artísticas dos últimos cem anos e defende que a decadência de algumas experiências estéticas teriam interferido negativamente na sociedade nesse período. O roteiro segue a linha conservadora dos vídeos da Brasil Paralelo, que desde 2016 lança filmes desafiando perspectivas de mundo hegemônicas entre intelectuais brasileiros, e está disponível em três episódios no YouTube.
A campanha contra a apresentação do vídeo na UFPR começou quando um grupo de estudantes de Direito decidiu realizar um evento fechado para a exposição do documentário. Após reservar a sala e fazer a divulgação em grupos de WhatsApp, os alunos passaram a ser criticados e censurados. Representantes do Centro Acadêmico apagaram mensagens sobre o evento alegando "não concordar com os conteúdos da Brasil Paralelo".
Depois que a própria Brasil Paralelo divulgou em suas redes sociais o evento na UFPR e em outras instituições, perfis de milícias digitais anônimas publicaram uma série de posts, marcando os perfis da UFPR e da Faculdade de Direito nas redes sociais, pedindo o cancelamento do evento. Nas mensagens dessas milícias, o conteúdo da Brasil Paralelo é chamado de "reacionário", "nazista" e "simplista". No Brasil, o artigo quinto da Constituição assegura a liberdade de expressão, mas veda o anonimato.
Em resposta e em defesa do evento na UFPR, a Brasil Paralelo publicou um texto em que afirma estar sofrendo censura daqueles que os chamam de reacionários. E comparou imagens de exibições questionáveis que já foram chamadas de arte, como a criança estimulada a tocar em um homem nu em performance no MAM, a obras de arte como as pinturas na Capela Sistina, em Roma.
"Ironicamente, um filme que critica o autoritarismo está sofrendo tentativa de censura. É um documentário com a presença de acadêmicos de renome nacional e internacional e extensa bibliografia. Logicamente estamos abertos a críticas, mas dialogar é diferente de proibir", disse a Brasil Paralelo. O vídeo tem entrevistas com personalidades como Theodore Dalrymple, Ann Sussman, Ian McGilchrist e Jonathan Pageau.
O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, defendeu a liberdade de expressão dos alunos de exibir o documentário e disse que a repercussão contrária "é coerente com o clima de acirramento ideológico e falência da discussão pública que hoje nós passamos". "Isso já tinha acontecido antes, inclusive com registro ideológico invertido, em outras circunstâncias na universidade", continuou o reitor. Para ele, como a universidade é um espaço plural, todas as opiniões podem ser discutidas em eventos acadêmicos. Deveriam ser proibidos apenas os atos de cunho partidário.
O reitor afirmou ainda não ter interesse em assistir ao conteúdo da Brasil Paralelo, mas reiterou que a universidade é um espaço de "pluralidade radical", onde é preciso defender o direito de expressão de todos, mesmo sem concordar com as ideias apresentadas. "É um conjunto de ideias que estão circulando. Como a universidade é um espaço plural, e vou defender até o fim que essa universidade é um espaço plural - tem aqueles que falam que a gente não é, tem aqueles que falam que a gente só tem um lado esquerdista, isso não é conhecer a universidade -, a universidade é um espaço de pluralidade radical e, portanto, sendo assim, se não for partidário, instrumentalmente político, acho que é preciso respeitar a pluralidade de ideias mesmo que a gente não goste delas".
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