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Vestibular

Campanhas podem evitar sobras de vagas para negros na Federal

Pela terceira vez seguida, desde que as cotas foram introduzidas no vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os calouros negros não serão suficientes para preencher todas as vagas destinadas a eles. Foram para a segunda fase 353 cotistas negros e, a não ser que todos eles passem, o número de aprovados em 2007 será ainda menor do que o de 2006. Para entidades do movimento negro, é preciso intensificar campanhas que mostrem ao jovem que ele pode tentar as cotas sem medo e que é capaz de conseguir a vaga na faculdade.

"A verdade é que o negro não tem estímulo para tentar as cotas", afirma Paulo Borges, presidente da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular (Acnap). Ele menciona a resistência aos cotistas dentro do ambiente universitário. Já a socióloga Marcilene Garcia de Souza, presidente do Instituto de Pesquisa da Afro-Descendência (Ipad), acrescenta que o preconceito chega ainda mais cedo. "A maioria dos professores de ensino médio é contra as cotas para negros. Num ambiente desses, como o jovem pode se sentir incentivado a ser cotista?", questiona.

Tanto Borges quanto Marcilene elogiam a ação da UFPR, mas acreditam que a universidade pode ir além, intensificando as campanhas publicitárias. "A estratégia é boa, só precisa ser ampliada e chegar aos locais onde ainda não está presente, especialmente nas escolas públicas dos bairros mais pobres. E não basta dizer que existem cotas, é preciso convencer o aluno de que ela é um direito do negro e que optar pela cota é um ato de cidadania", acredita Marcilene.

O reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, afirma que a UFPR faz o que está a seu alcance para incentivar os cotistas. "Fizemos uma série de ações em escolas públicas, visitamos várias delas, e não só em Curitiba; fizemos uma cartilha mostrando como se inscrever pelas cotas", argumenta.

Moreira afirma que vários estudantes pardos, que poderiam optar pelas cotas raciais, acabam tentando a vaga como estudante de escola pública por medo de serem barrados pela comissão que avalia os aprovados. Borges, que faz parte dessa comissão, diz que o vestibulando não pode ter essa preocupação. "Existem certos traços que são característicos do negro e, se o candidato pardo tem esses traços, ele não precisa achar que será reprovado nessa avaliação", esclarece.

Marcilene acrescenta que, diante dos números, as entidades do movimento negro fazem uma autocrítica. "Nós também precisamos fazer nossa parte para que mais negros se inscrevam no vestibular. Acho que precisamos, por exemplo, de outros cursinhos solidários para que nossos candidatos estejam mais preparados para superar a primeira fase, onde as cotas não valem", sugere. Outra possibilidade é aproveitar a experiência dos negros que já estão na universidade, que podem servir de exemplo para os jovens estudantes.

O reitor da UFPR adianta que o caso será estudado assim que saírem os números dos aprovados. "Vamos discutir dentro da universidade e também chamaremos o movimento negro. Pelo menos uma pequena mudança tem de ser feita", opina. Uma alternativa é reservar o total das cotas para alunos de escola pública, com metade deste número para os negros. Hoje, quando as cotas não são preenchidas, as vagas vão para a concorrência geral. "Se a UFPR pode conceder 40% de suas vagas para cotistas, é mais coerente que esses 40% sejam preenchidos por cotistas, e não apenas 28%", diz.

Serviço: Cursinhos solidários – Acnap (3349-6710) – Ipad (3018-0993).

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