As perfurações no campo de Frade eram consideradas uma aposta arriscada, conforme admitiu o próprio presidente para América Latina e África da Chevron, Ali Moshiri, ao "Wall Steet Journal", em uma reportagem publicada em outubro de 2008. Essa reportagem foi citada pelo delegado da Polícia Federal Fábio Scliar em seu relatório sobre o vazamento ocorrido em novembro do ano passado.
Moshiri, na ocasião, justificou os riscos lembrando que acabou o tempo das grandes reservas de petróleo fáceis de explorar, conhecidos na indústria como elefantes. "Se você só for atrás de elefantes, nunca vai caçar", disse Moshiri ao "Journal".A reportagem conta que Moshiri estava envolvido com o campo de Frade desde 2001, quando assumiu o cargo após a fusão de Chevron e Texaco. "Era um projeto que foi contestado desde o primeiro dia", contou. A Texaco pretendia construir uma grande plataforma no local, o que Moshiri descartou por ser muito caro.
Moshiri, segundo o "Journal", esperava que o campo de Frade se tornasse um padrão para exploração em locais semelhantes. Mas tinha pressa: para ganhar tempo e dinheiro, ele vetou abordagens convencionais, mais demoradas, e reciclou equipamentos antigos.
A Chevron tentava desenhar um plano de baixo custo quando descobriu que o petróleo não estava em uma "colmeia" de pequenos reservatórios. A colmeia teria tornado a exploração economicamente inviável. A equipe que trabalhava no campo de Frade queria perfurar mais poços para melhor entender o local. Mas Moshiri disse que isso era muito caro e demorado e defendeu a perfuração de menos poços, mais simples e baratos.
Muitos dos engenheiros envolvidos no projeto estavam habituados a locais de fácil exploração e achavam o campo de Frade perda de tempo. Morishi lembrou-os de que esse tempo acabara.
Em agosto de 2004, um diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) criticou a empresa, dizendo a uma publicação setorial que a Chevron não estava se esforçando para desenvolver o local. Moshiri e uma equipe de engenheiros e geofísicos da Chevron foram ao Rio para uma série de reuniões com a agência. Ele disse ao "Journal" que os técnicos se convenceram.
O plano original da Chevron era perfurar metade dos 19 poços planejados, começar a produzir petróleo, depois estudar os dados por 18 meses antes de perfurar os restantes. Era uma abordagem conservadora. Se os primeiros poços não parecessem bons, a empresa poderia desistir dos outros e reduzir as perdas.
Mas, enquanto os geólogos da Chevron aconselhavam a ir devagar, Moshiri decidiu, em meados de 2005, apostar alto no campo de Frade. Eles perfurariam todos os poços, um atrás do outro, sem intervalo. "Este é nosso trabalho, assumir riscos", afirmou Moshiri.
Temendo perder a oportunidade de explorar o local, Moshiri decidiu correr. A Chevron foi atrás de uma plataforma. Em novembro de 2005, conseguiu uma para adaptação.
A Sedco 706, construída em 1976, não era adequada para a moderna exploração em águas profundas e nem estava operando. A Chevron propôs à dona da plataforma, a Transocean, um contrato de três anos, de US$ 315 mil por dia, se esta adaptasse a Sedco - citada no relatório da PF - para o serviço. A Transocean concordou. Para levar a plataforma ao local, a Chevron recorreu a outra quase-sucata: o navio-tanque Lu San, cuja vida útil começara nos anos 1970, com o armador grego Aristóteles Onassis.
No fim, o "Journal" lembra que permaneciam dúvidas sobre o campo de Frade. "Apesar de anos de modelação computacional, a Chevron não sabe quanto óleo as rochas contêm ou a localização exata do reservatório".
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