Jovens fazem poucos exames rotineiros, o que dificulta o diagnóstico precoce| Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) levantou o perfil das mulheres que passaram pe­­lo hospital para tratamento de cân­cer de mama. Entre as 2.573 pa­­cientes atendidas nos quase três anos de funcionamento da instituição, 15% tinham menos de 45 anos. A mais jovem tinha, na época em que recebeu o diagnóstico, apenas 19 anos.

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O coordenador do Setor de Mastologia do Icesp, José Roberto Filassi, diz que esse levantamento será feito também para outros tipos de câncer. Mama foi o primeiro justamente porque a incidência está aumentando em mulheres em idade reprodutiva. A grande preocupação é que a detecção da doença nas mulheres jovens é mais difícil. Primeiro porque elas não estão na idade em que exames são feitos rotineiramente e, mesmo quando a mamografia é realizada, a percepção do tumor é mais difícil. "A mulher jovem tem muito tecido glandular e pouca gordura. Isso dificulta a visualização dos sinais precoces do câncer", explica Afonso Nazário, do Departamento de Ginecologia da Unifesp.

Além disso, diz ele, o câncer de mama na mulher jovem costuma ser mais agressivo. Tem taxa de crescimento maior e mais risco de metástase. Mas, segundo Nazário, a incidência desse tipo de tumor cresce em todas as faixas etárias, não só em mulheres jovens. Levantamento feito pelo coordenador do Programa de Mastologia da Universidade Federal de Goiás, Ruffo de Freitas, confirma essa ideia. Ele analisou dados do Re­­gistro de Câncer de Base Popu­lacional de Goiânia entre 2003 e 2008. Nas mulheres entre 20 e 49 anos, a taxa de crescimento anual foi de 4,8%. Entre as de 50 e 59 anos, de 6,3% e, entre as de 60 e 69 anos, de 5,8%%.

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Quando ele avaliou o crescimento acumulado em todo o período, os resultados foram alarmantes: aumento de 134% entre mulheres de 20 a 29 anos; 104% entre 30 e 39; 127% entre 40 e 49 e 277% entre 50 e 59.

Especula-se que a explosão seja consequência da mudança no estilo de vida feminino. "No século 19, as mulheres menstruavam mais tarde e logo casavam e tinham filhos. Amamentavam mais tempo e entravam mais cedo na menopausa. A mama passava menos tempo sob o estímulo dos hormônios ovarianos", explica Nazário. Além disso, a entrada no mercado de trabalho deixou a mulher mais predisposta a sofrer de estresse, depressão e ansiedade, fatores que enfraquecem as defesas do organismo contra o câncer.

A melhor forma de se proteger e diminuir a mortalidade é o diagnóstico precoce. "Não dá para a mu­­lher jogar fora o que conquistou, sair do mercado de trabalho e voltar a ter um filho atrás do outro. Mas dá para detectar o câncer em fase inicial, quando é mais fácil tratar", afirma Nazário. Quando o tumor é diagnosticado com nódulo menor que 1 centímetro, as chances de cura chegam a 95%.

História família

Além de álcool, obesidade, gravidez tardia ou nuliparidade (não ter filhos), a história familiar é um fator de risco para o câncer de mama. Mas tumores hereditários correspondem apenas a 10% dos casos. "Muitas se sentem seguras por não ter casos na família. Mas a maioria adquire a mutação ao longo da vida. Todas precisam fazer rastreamento após os 40 anos", diz Afonso Nazário.

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A professora Adriana Fontana, de 47 anos, é um exemplo de que o problema pode surgir quando menos se espera. Ela é magra, não bebe e amamentou os dois filhos nascidos antes dos 30 anos. Aos 39, retirou um tumor na mama direita. Ano passado, descobriu que a outra mama também foi afetada pela doença.