Um comentário feito na terça-feira pelo governador do Paraná, Roberto Requião, durante a Escola do Governo, foi transmitido ao vivo, ganhou repercussão nacional e provocou, além de polêmica, muitas dúvidas a respeito da incidência e das causas do câncer de mama em homens.
Ao chamar o secretário de Estado da Saúde, Gilberto Martin, para anunciar os investimentos realizados para controlar o câncer de mama no estado, Requião relacionou a doença com a homossexualidade. Segundo a fala do governador, o câncer de mama entre a população masculina "deve ser consequência dessas passeatas gays".
Entretanto, como explica o mastologista Cícero Urban, do Hospital Nossa Senhora das Graças, as causas da doença nos homens não podem ser relacionadas à orientação sexual. "O uso indiscriminado de hormônio feminino para aumentar as mamas, praticado por alguns transexuais, pode aumentar as chances de desenvolver câncer de mama, mas só em homens que já têm predisposição genética à doença. Por isso não faz sentido relacionar a doença com o homossexualismo", explica o especialista.
Urban conta que o câncer de mama masculino é uma doença rara e corresponde a 1% de todos os casos de câncer de mama no país. "Podemos dizer que, no Brasil, existem 1 a 2 casos a cada 100 mil habitantes. Na nossa unidade, atendemos um caso da doença por ano. Durante este ano, ainda não tivemos nenhum caso. Todos os pacientes que eu atendi, no entanto, eram heterossexuais, não faziam uso de hormônios nem apresentavam outros fatores de risco", aponta.
Já no Hospital Erasto Gaertner, segundo o oncologista Sérgio Hatschbach, responsável pelo Serviço de Mama da instituição, são atendidos de 5 a 7 casos da doença por ano. "De acordo com as estimativas, existem no estado cerca de 35 novos casos em homens, número muito inferior aos 3,5 mil casos entre as mulheres", conta.
Curiosamente, segundo Urban, a cidade com a maior incidência de câncer de mama masculino não só no Brasil, mas no mundo é Recife, que apresenta 3,4 casos por 100 mil habitantes. "Ainda não se sabe o motivo de a incidência ser tão alta na região, mas, mesmo assim, o número é baixo. Não podemos considerar o câncer de mama em homens um problema de saúde pública, ao contrário do câncer de mama em mulheres, que apresenta em média cerca de 50 mil novos casos por ano", completa.
Particularidades
De maneira geral, o câncer de mama em homens se desenvolve de forma semelhante à doença nas mulheres. Uma das diferenças principais é a faixa etária. Enquanto as mulheres já precisam se preocupar com exames de rastreamento aos 35 anos, a doença atinge homens acima dos 60 anos de idade. "Como os exames não são comuns, a doença só é percebida em um estágio bastante avançado. Geralmente ocorre um endurecimento ou um aumento de volume da mama, com secreção dos mamilos, dores e até mesmo feridas, já que a pele está muito mais próxima da região afetada, por ter menos gordura do que a mama feminina", explica Hatschbach.
Nos Estados Unidos, constatou-se que homens de ascendência judaica e negros estão mais suscetíveis. Fatores ambientais, como exposição à gasolina e ao tabaco também são considerados de risco.