
Foz do Iguaçu - Com 31,75 mortes por câncer de pulmão, brônquios e traqueia para cada grupo de 100 mil homens, a região de Francisco Beltrão, no Sudoeste do estado, mantém o título de campeã estadual de óbitos por esse tipo de neoplasia. A doença tem diagnóstico difícil e, entre outras causas, está relacionada ao consumo precoce e excessivo de álcool e cigarro. Os maus hábitos combinados com o trabalho desmedido na lavoura e com o contato frequente com agrotóxicos acabam traduzidos em estatísticas preocupantes. Os dados são de um levantamento feito pelo Comitê Estadual de Prevenção da Mortalidade por Câncer (CEPMC), referentes ao perído de 2004 a 2008, divulgado na semana passada.
O índice da região é o dobro das médias estadual e nacional de 2008, quando o Brasil registrou 15,5 mortes por 100 mil homens e o Paraná, 16,98, terceiro no ranking nacional, depois do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Mesmo alarmante, o quadro não é novidade para os profissionais de saúde. Informação confiável, detalhada, precisa e regionalizada é fundamental para se conhecer a doença, saber como ela se comporta e promover ações para freá-la, minimizando as taxas de mortalidade, observa a chefe da Divisão de Vigilância de Doenças Não Transmissíveis da Secretaria de Estado da Saúde, Alice Tisserant.
O levantamento indica ainda que no restante do país, o câncer de pulmão é o segundo que mais mata entre as mulheres, perdendo apenas para o de mama. Em terceiro, aparece o câncer de cólon e reto. No mesmo ritmo do Sudoeste do estado, entre os homens, o câncer de pulmão também figura em primeiro lugar na lista de tumores malignos que mais levam à morte, seguido do câncer de próstata e de estômago.
Integrante do comitê, Alice garante que o estado vem adotando medidas a fim de alertar a população e orientar os profissionais de saúde para que qualquer suspeita seja diagnosticada o mais rápido possível. "Os resultados das pesquisas e o ajuste dos dados são levados ao conhecimento de toda a rede de atenção oncológica. Além dos protocolos comuns, são definidas também estratégias específicas para cada região e situação em que se destaca." A prevenção e o controle do câncer, reforça, estão entre os desafios científicos e de saúde pública mais importantes da atualidade.
Combate
Referência para o Oeste e Sudoeste do estado, o Centro de Oncologia Cascavel (Ceonc) recebe pacientes de mais de 180 municípios do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Por dia, são realizadas entre 400 e 450 consultas, 150 sessões de radioterapia e outras 80 de quimioterapia, todas pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Equipado com um centro cirúrgico com cinco salas e cinco leitos de UTI, no prazo de 60 dias deve passar a oferecer os tratamentos especializados também em Francisco Beltrão, onde já existe uma unidade voltada somente às consultas.
Como ressalta o diretor-administrativo do Ceonc, Paulo Ferri, o volume de atendimento impressiona, mas poderia ser ainda maior. "O trabalho de conscientização das pessoas é lento e os resultados são demorados. O câncer assusta e faz com que muitas pessoas evitem saber que podem estar desenvolvendo a doença. Mas, justamente por isso é que deveria receber uma atenção maior. Hoje os tratamentos são menos traumáticos e mais eficazes", aponta. Em 17 anos de atividade, o hospital conta atualmente com 3 mil pacientes em tratamento e outros 7 mil com a doença controlada.
Quanto mais no início diagnosticado o câncer e dependendo do local atingido, maior a sobrevida. "A neoplasia de pulmão é uma das mais difíceis de ser detectada. Isso acaba fazendo com que a doença avance e se espalhe para outros órgãos vitais", explica Ferri, ao lembrar a importância de se procurar o médico ao se notar qualquer mudança no corpo. "Não são raros os casos de pessoas que chegam muito debilitadas, com poucas chances de sobrevivência. Por outro lado, o volume de pacientes curados também aumenta a cada ano, à medida que percebemos também importantes mudanças de comportamento aliadas a avanços na medicina."