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A Rede Nacional em Defesa da Vida e da Família reúne voluntários em todo o Brasil que se dedicam a evitar que mulheres façam o aborto. A líder desse movimento é a cantora católica Zezé Luz. Ela fez um aborto em 1986, aos 19 anos, após ser estuprada em Campina Grande (PB). Depois disso, conviveu com as consequências físicas e psicológicas de seu ato por cerca de 14 anos. Mais tarde, conheceu o movimento pró-vida. Mas ainda precisava de ajuda para superar os traumas causados pelo aborto. Quando conseguiu seguir em frente, passou a trabalhar voluntariamente para impedir que outras mulheres interrompam as suas gestações. Nessa entrevista, Zezé conta um pouco de sua história e detalha as ações da Rede Nacional em Defesa da Vida e da Família. Confira:
Como você conheceu o movimento pró-vida?
Zezé Luz: Eu fui estuprada quando eu tinha de 18 para 19 anos. E fiz um aborto com aproximadamente 2 meses de gestação, o chamado “aborto legal”, dentro de um ambiente hospitalar. E eu carregava comigo o trauma das consequências desse aborto. Me causou tantas sequelas. Isso foi há mais de 30 anos. Mas eu me converti e me tornei uma defensora da vida. Esse foi o meu mais importante chamado. Enquanto eu tiver vida, vou lutar para que as mulheres não passem pelo que eu passei.
Você mencionou que teve consequências físicas e emocionais por causa do aborto que fez...
Zezé Luz: Em 2009, eu já estava trabalhando com a defesa da vida há quase cinco anos, mas eu tive que passar pelo acompanhamento do processo pós-aborto. Eu aconselhava as gestantes, salvava os bebês, mas faltava alguma coisa dentro de mim. O projeto Esperança, que nasceu no Chile, me ensinou que eu precisava me reconciliar com Deus, com meu filho ou minha filha, e comigo mesma. A partir daí, eu tomei a decisão de viver em castidade e de ajudar as pessoas.
Eu tive consequências físicas e psicológicas por ter feito o aborto. Eu tive perfuração do endométrio e tive que passar por duas cirurgias. Eu tinha pesadelos, caía da cama, sonhava com bebês esquartejados. Eu passava na rua e não conseguia olhar para os bebês. Eu tinha a chamada “síndrome” pós-aborto, que a CID [Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde] não reconhece como síndrome. Mas ela acaba com as mulheres. Após esse atendimento e depois de alguns cursos, desde 2012, eu ajudo mulheres que passam pelo que eu passei.
Mas Deus me deu a graça de ter uma outra filha, porque eu pensei que tinha ficado estéril. E ela vai se formar médica. E pedi a ela para nunca participar disso [realizar o aborto nos casos permitido pela lei - estupro, risco para a vida da mãe ou de bebês anencéfalos].
Como surgiu o trabalho da Rede Nacional em Defesa da Vida?
Zezé Luz: Já existiam movimentos que faziam esse trabalho e vieram outros - católicos, evangélicos, espíritas, sem ligação com religiões e suprapartidários. Começamos a trabalhar de uma forma contínua e direta, fazendo os atendimentos às meninas e às mulheres. Trabalhamos tanto no meio político quanto no social.
Após a decisão do STF no caso de Jandyra - jovem do Rio de Janeiro que morreu em uma clínica de aborto clandestino, teve o corpo esquartejado e carbonizado -, que mandou soltar três [que atuavam lá], em 2016, nós recriamos a rede. [Todos foram condenados em 2018].
Eu conhecia cerca de 700 lideranças pró-vida devido às palestras que dou pelo Brasil, testemunhos, pelo trabalho com a Elba Ramalho e resolvi juntar todo mundo em grupo de WhatsApp e agir.
Pedi ajuda para que eles nos ajudassem a realizar atos públicos em todo o território nacional para combater esse ativismo judicial e essa falácia do aborto. Dentro da lei, começamos a organizar atos pacíficos. Em novembro de 2016, 32 cidades tiveram esses atos. Tivemos falas consistentes e técnicas de juristas, médicos, psicólogos.
Deus me deu esse insight de recriar a Rede Nacional em Defesa da Vida e da Família para trabalhar na defesa da vida em sua integralidade - desde a concepção até a morte natural.
Quais são as áreas de atuação da Rede?
Zezé Luz: Trabalhamos para promover a dignidade da vida - da mulher e do bebê - nas redes de apoio, nos atendimentos às mulheres que querem abortar, nas conversas com os deputados federais e senadores em Brasília para combatermos o ativismo pró-aborto no Congresso, nas visitas aos gabinetes, e também nos bastidores.
A gente precisa trabalhar nas bases, nos conselhos, para informar e formar as pessoas para trabalharem contra a cultura da morte e a favor da vida. A população brasileira majoritariamente é contra o aborto.
Como funciona esse trabalho?
Zezé Luz: Trabalhamos nas dimensões educacional, jurídica (acompanhamento dos projetos de lei relacionados ao tema), e no atendimento direto às gestantes [que pensam em abortar], principalmente às que vivem em vulnerabilidade social.
Na rede, temos uma estrutura de profissionais qualificados - todos voluntários. Se a menina for expulsa de casa, não tiver apoio da família, do pai da criança, nós vamos acolher e ajudar. Vamos acompanhar, para que o parto seja seguro. Vamos levar para uma casa de apoio. Nos casos das gestantes mais pobres, ajudamos com cestas básicas, enxoval e itens para o bebê. Mas, no decorrer da gestação, muitas famílias se reconciliam.
Mesmo nos casos das vítimas de estupro, temos tido muito sucesso [em evitar que façam o aborto]. Eu vou até elas, nos estados em que estão, converso com elas e então desistem de matar os filhos.
Nós orientamos que existe também a opção da entrega legal para adoção - nas Varas da Infância -, mas muitas delas acabam ficando com os bebês e dizem: “obrigada, você salvou a vida do meu bebê e a minha”. E não tem prêmio maior. Eu não estou com a minha filha nos braços, mas posso dizer que esse trabalho, esse apostolado pró-vida, salvou a minha vida também nesse sentido. É um ato de reparação.
Qual é a sua avaliação sobre o Congresso?
Zezé Luz: Na nossa avaliação, o aborto jamais será aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, porque lá estão os representantes da sociedade civil, eleitos democraticamente. Eles precisam corresponder às expectativas da população.
É por isso que é tão importante a atuação dos deputados pró-vida, como Chris Tonietto, Diego Garcia, Eros Biondini, Hugo Leal, Francisco Jr. Esses são alguns dos parlamentares que se posicionam, mas existem muitos outros deputados católicos. Precisamos que eles se apresentam. Nas próximas eleições [para o parlamento], em 2022, nós vamos elencar quem nunca moveu uma palha em defesa da vida e quem fica em cima do muro. Precisamos da lei para defender a vida.
E sobre o Judiciário?
Zezé Luz: Há um ativismo pró-aborto no STF [Supremo Tribunal Federal]. A gente precisa exigir do Senado, que faz as sabatinas com os candidatos a ministro do STF, e ao presidente da República, que é quem indica, para barrar o ativismo judicial. As leis precisam ser discutidas e votadas no Congresso. O STF não está ali para legislar. A essência do Supremo é ser o guardião da Constituição.
Como os casos dessas mulheres chegam até os voluntários da Rede?
Zezé Luz: Nós atendemos essas mulheres para ajudá-las no que precisarem e no convencimento para que não façam o aborto. Elas chegam a nós por diversas formas: pelas redes sociais, por SMS, e-mail, alguém que nos liga, nos procura, alguém que já conhece o nosso trabalho.
Quantas crianças já foram salvas?
Zezé Luz: Pelas minhas contas, já temos de 700 a 800 crianças salvas do aborto nesses 14 anos. Depois, muitas dessas mães ligam, mandam fotos dos filhos e dizem: ‘você salvou a vida do meu bebê’.
Houve casos em que não foi possível evitar o aborto?
Zezé Luz: Um foi em Goiás. A menina forjou um estupro - depois foi provado que não houve esse crime - e fez o aborto. Uma desembargadora autorizou o aborto com quatro meses de gestação. Aos 17 anos, ela roubou o namorado da mãe e estava montando casa para ir morar com ele. Não houve estupro. Foi uma experiência muito traumática para mim, pois acabou acontecendo o aborto. E também iria acabar com a vida do rapaz. Mas nesse caso ficou provado no inquérito que ele era inocente. Era um caso em que não havia amor dos pais [da adolescente], não havia estrutura familiar. Ocorreu outro caso no Rio de Janeiro.
Além das ações citadas, como a Rede trabalha para evitar que abortos sejam feitos no Brasil?
Zezé Luz: Esse é um dos grandes desafios do nosso movimento: que as jovens saibam os danos que o aborto causa à saúde delas, à saúde reprodutiva delas, que podem ficar estéreis, e que podem ter maior probabilidade da dependência em álcool e drogas e também de entrar em depressão.
[Para combater a prática do aborto], também temos que trabalhar na área da educação e buscar políticas públicas para os jovens e adolescentes. E tudo isso a partir do princípio da reconstrução da família. E nisso vejo que o governo federal, principalmente a Secretaria Nacional da Família, [do Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos], está tendo essa preocupação.
Estou trazendo um modelo do Chile, que é a rede colaborativa. Lá, é uma rede imensa. É uma política pública do país. Dentro dos hospitais públicos existem núcleos pró-vida. A adolescente ou a mulher, ainda que tenha passado por violência sexual, precisa saber que existe alternativa ao aborto. Ela não precisa passar por outra violência.
Nós temos que mostrar para as mulheres o que é o aborto. Não se trata de chocar, mas sim de dizer o que realmente é. O aborto mata um ser indefeso, que não tem voz, que pode não pode se defender por si só. E, como consequência disso, o aborto acaba com a vida da mulher. Eu sou a prova viva, o aborto quase acabou comigo.
Para a mulher que agora pensa em fazer o aborto, como ela pode pedir a ajuda da Rede?
Zezé Luz: Nós precisamos falar para as mulheres do Brasil: não abortem, vocês não estão sozinhas. Entrem em contato com a gente: pelo Instagram - https://www.instagram.com/zeze.luzoficial/ (@zeze.luzoficial) / https://www.instagram.com/geracao_provida/ (@geracao_provida). Também pelo e-mail: redenacionalemdefesadavida@gmail.com. E existem também o movimento Brasil Sem Aborto e as instituições que podem ajudar essas mulheres.
E para quem quiser colaborar ou saber mais sobre o trabalho de vocês, como faz?
Zezé Luz: Ao longo desses 14 anos, todo o trabalho na Rede Nacional em Defesa da Vida é voluntário. Não recebemos nada de ninguém para fazer trabalho. Tudo o que conseguimos é por meio de doações. Pedimos ajuda para poder ajudar essas mulheres [que pensam em abortar]. Montamos enxoval, tentamos ajudar até com bercinho, cesta básica. Tudo isso vem de doações. Quem quiser ajudar, também pode entrar em contato com a Rede pelo e-mail ou pelas redes sociais [informados anteriormente].
Eu faço palestras gratuitas pelo Brasil para montar os núcleos da Rede Nacional em Defesa da Vida. Nove capitais do Brasil já têm núcleos que estamos estruturando. Maceió (AL), Manaus (AM) e São Luiz (MA) são os que já estão mais estruturados. Mas há voluntários da Rede em todo o território nacional. Essas foram três capitais em que eu fui dar palestras e montamos os núcleos locais da Rede.