Desembargador diz que houve excesso da PM na invasão do Carandiru
O desembargador Fernando Antonio Torres, juiz da Corregedoria dos presídios na época do massacre, disse que houve excesso na ação da Polícia Militar durante a invasão do Carandiru. Ele foi a segunda testemunha de defesa ouvida nesta terça-feira (16). "Uma coisa é entrar, outra é resultar em 111 mortes. Não há nexo", afirmou Torres. "Era necessário ingressar, mas não era necessário o resultado obtido". Torres disse que, quando entrou no pavilhão 9, sangue escorria pelas escadas.
O ex-governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho afirmou nesta terça-feira (16) à advogada de defesa, Ieda Ribeiro dos Santos, que a Polícia Militar se reporta ao Secretário de Segurança. "Pelo menos no meu governo era assim." Segundo ele, em uma época de "40% de inflação ao mês, com 1,5 milhão de desempregados e dívidas de Estado, evidentemente que a investigação (do massacre do Carandiru) deveria ter sido feita como foi, pelos órgãos competentes", e não pelo governador. "A responsabilidade política do caso é minha. A responsabilidade criminal será decidida pelos jurados", afirmou.
Exaltado com a pergunta da advogada sobre sua responsabilidade no caso, ele ressaltou: "Governador não é presidente de inquérito. Eu já disse à senhora que tomei conhecimento posteriormente." Ele afirmou não ter "nenhuma" responsabilidade no caso. O depoimento de Fleury no Fórum da Barra Funda, em São Paulo, foi encerrado após 30 minutos.
O ex-governador confirmou que daria ordem para invadir o presídio se assim fosse pedido. "Diante de todas as informações que recebi posteriormente, a entrada foi absolutamente necessária e legítima. A omissão da polícia é tão criminosa quanto qualquer ação."
Segundo Fleury, "o PCC (Primeiro Comando da Capital), que dizem ter sido criado em razão desse episódio, no meu governo era um time de futebol". "Eu acho que se usa essa justificativa (de o episódio do Carandiru ter originado o PCC) para tentar dar um pouco de glamour ao PCC. É uma organização criminosa, que nasceu criminosa", afirmou.
O secretário de Segurança à época do massacre do Carandiru, Pedro Franco de Campos, é a quinta testemunha de defesa a ser ouvida nesta terça. Três desembargadores testemunharam, além do ex-governador Fleury.
Segundo dia
O julgamento de 26 policiais militares acusados de 15 mortes no massacre do Carandiru entrou no seu segundo dia nesta terça-feira (16) no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Cinco testemunhas de acusação já foram ouvidas na segunda: três ex-detentos do presídio, o ex-diretor de segurança e disciplina da Casa de Detenção e um perito criminal.
Os depoimentos contestaram o número oficial de mortes relatadas. Ao todo, 111 presos teriam sido mortos no Pavilhão 9 do Carandiru, em outubro de 1992. Um dos ex-presidiários disse que contou o dobro de corpos. "A impressão que nós tínhamos era que o número de corpos era muito maior do que o divulgado", disse o agente penitenciário, Moacir dos Santos. O perito Osvaldo Negrini Neto mostrou fotos dos mortos empilhados no pátio do presídio aos jurados e afirmou que a retirada dos corpos do local prejudicou a perícia.
Nesta terça, o júri deve ouvir nove testemunhas de defesa, após a promotoria ter dispensado as demais testemunhas de acusação. O secretário de Segurança Pública à época, Pedro Franco de Campos, e o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho já estão no Fórum da Barra Funda, segundo informações do Tribunal de Justiça. Os dois prestarão depoimento.
Esse é o primeiro julgamento do massacre no Carandiru. Outros 53 PMs serão julgados pela participação na invasão à Casa de Detenção em mais três etapas.
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