O tráfego de caminhões é sinônimo de economia ativa, já que evidencia o transporte de produtos de um ponto a outro. Porém, para as cidades do litoral do Paraná a circulação de veículos com cargas pesadas significa problemas: buraco nas ruas, risco de acidentes, danos à estrutura de prédios e casas, proximidade de hospitais e escolas, sujeira e barulho. Tudo isso porque as áreas urbanas não foram projetadas para absorver este tipo de fluxo. Desde 1997, quando foi implantado o pedágio na BR-277, na saída de São José dos Pinhais, aumentou a quantidade de caminhões com destino aos portos de Paranaguá e Antonina que usam rodovias do litoral para fugir da cobrança da Ecovia, na região metropolitana de Curitiba.
Por isso, cinco das sete cidades litorâneas são atingidas. As exceções são Pontal do Paraná e Guaraqueçaba. Morretes recebe o fluxo de veículos em direção ao Terminal Ponta do Félix, em Antonina, através da PR-408. A cidade de Antonina é cortada pela PR-410, que segue até o porto. Guaratuba e Matinhos são rota dos caminhoneiros que saem da região nordeste de Santa Catarina (Joinville, nesta região, é o polo industrial do estado vizinho) em direção ao Porto de Paranaguá. E, óbvio, a cidade de Paranaguá, que tem no segundo maior porto do país (atrás apenas de Santos) o principal motor de sua economia. A movimentação de cargas nas rodovias litorâneas atinge seis dos dez trechos.
Em Morretes, os caminhões e carretas que trafegam pela PR-408 em direção a Antonina causaram problemas na estrutura do hospital da cidade. O presidente da Associação Hospital e Maternidade de Morretes, Dejair Miranda, conta que devido ao peso dos veículos de carga o solo da região assentou e causou rachadura. Parte do piso de um corredor abaixou e formou uma rachadura na parede. "Houve trepidações e acomodou o terreno." Segundo ele, o problema ficou recorrente há três anos, quando começou o tráfego de bi-trens (dois semi-reboques de até 57 toneladas) rumo ao Terminal Ponta do Félix.
O prefeito Amílton de Paula (PT) faz coro e lamenta os prejuízos, principalmente porque o tráfego passa ao lado de casas antigas e de pontos turísticos, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto. "A estrutura da cidade é antiga, inclusive de prédios e casas, e não está preparada para receber as cargas que está recebendo." Além do problema estrutural, existe também o de segurança, já que é grande o número de pedestres nas rodovias. "Morretes tem o maior índice de atropelamentos do litoral", comenta o prefeito. Em Antonina, cortada pela PR-410, o trajeto dos caminhões também representa risco aos pedestres, já que passa em frente ao Hospital e Maternidade da cidade e próximo a escolas.
Risco ambiental
Do outro lado do litoral, nos municípios de Matinhos e Guaratuba, o problema se repete. O que muda é o tráfego, que segue, na grande maioria, ao Porto de Paranaguá. O diretor de Turismo de Matinhos, Celso Elias Gomes, lembra que o plano diretor da cidade prevê a construção de um contorno, para retirar o fluxo pesado da área urbana. O problema, assim como em Morretes e Antonina, é o prejuízo ambiental que uma nova estrada pode trazer.
Apesar disso, ele acha necessário encontrar uma solução porque os veículos pesados passam próximos ao centro e na frente da prefeitura, do hospital e de uma escola. "Na verdade, (os caminhões) não deixam nada de bom. Só destroem. E as nossas ruas não têm capacidade para isso." A rodovia PR-412 passa pelos balneários de Matinhos e Guaratuba. Em Guaratuba, atravessa parte da área urbana e segue até a divisa com Santa Catarina, cortando diversos balneários. Matinhos ainda tem ligação com a PR-508, a Alexandra-Matinhos, rota de ligação com a BR-277 e o Porto de Paranaguá.
Em Guaratuba, a presidente da Associação Comercial e Empresarial, Edna Aparecida de Souza, diz que a reforma da Avenida Paraná melhorou o tráfego para os automóveis, já que desviou os caminhões da área central da cidade. "Agora que eles (os caminhoneiros) estão usando a Paraná diminuiu o fluxo no centro." Porém, um trecho da avenida ainda não está concluído, segundo ela. Quando a obra estiver pronta, a expectativa é melhorar a trafegabilidade para atender o turista. "A preocupação é em desafogar na época da temporada", afirma Edna.
Por e-mail, o Departamento de Estradas e Rodagens (DER) do governo do Paraná informou que presta manuntenção regular a cinco rodovias no litoral. Segundo o órgão, as estradas foram recuperadas com gasto médio de R$ 1,5 milhão por ano desde 2003. No programa Conservação Total, de acordo com a assessoria do DER, 160 quilômetros de estradas litorâneas recebem obras de recuperação e "estão incluídos neste programa os trechos na PR-412, da divisa até Ponta do Poço; na PR-808, trevo de Itapoá até divisa com Santa Catarina; na PR-410; na PR-340; e na PR-405."