Decisão é "gota de esperança"
"Para um país tão acostumado com a impunidade, essa decisão é uma gota de esperança", comentou Cristiane Yared, mãe de Gilmar, após conhecer a decisão da 2ª Vara do Tribunal do Júri. Emocionada, ela diz esperar que decisões como essa sirvam de exemplo para casos semelhantes no Brasil. "Nós aguardávamos esse dia. A Justiça se mostrou séria." Mesmo diante dos recursos da defesa ainda possíveis no caso, Cristiane afirma que tem esperanças que o processo termine este ano. Cristiane fundou, no ano passado, o Instituto Paz no Trânsito. A Organização Não Governamental (ONG) trabalha por maior rigor nas penas em crimes de trânsito com vítimas fatais.
Recurso ainda pode mudar rumo do caso
Embora a decisão do juiz Daniel Surdi de Avelar, que determina que Carli Filho vá a júri popular, seja um passo importante no processo, ainda não traz definição para o caso.
Passados quase dois anos das mortes dos estudantes Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida, a Justiça determinou esta semana, em uma sentença de pronúncia, que o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho seja julgado por um júri popular. O ex-parlamentar é acusado de ser o responsável pelo acidente automobilístico que causou a morte dos estudantes em maio de 2009. Carli Filho responderá por duplo homicídio com dolo eventual (quando o agente assume o risco de produzir o resultado) e de forma qualificada (quando a vítima não tem chance de defesa). Cabe recurso da decisão.
O juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Daniel Surdi de Avelar, voltou do litoral do Paraná, onde está deslocado para a Operação Verão, justamente para fazer a sentença de pronuncia do caso, na segunda-feira. Apenas ontem, porém, a decisão foi divulgada. Avelar disse, por telefone, que "a Justiça fez o que podia ser feito".
Apesar da pronúncia, o juiz é cauteloso ao comentar o caso. "Falar em julgamento popular ainda é prematuro. Existe ainda a fase recursal", ressaltou. O advogado da família Yared, Elias Mattar Assad, no entanto, diz esperar que, mesmo com os recursos, Carli Filho seja julgado ainda neste ano.
Avelar tinha a opção de encaminhar o caso para a Vara de Delitos de Trânsito, onde Carli poderia ser condenado por até 4 anos em regime aberto. O magistrado entendeu, porém, que Carli assumiu o risco de matar os jovens quando dirigia embriagado e sem habilitação. Com isso, se condenado, o réu poderá ficar preso em regime fechado entre 12 e 30 anos. O advogado de Carli, Roberto Brzezinski Neto, e a família do ex-deputado não comentaram a decisão.
Entre as bases da decisão de Avelar estão 28 testemunhos. Duas das testemunhas são atendentes do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate). Elas dizem ter sentido "hálito etílico" ao monitorar a respiração de Carli Filho momentos depois do acidente. Em outro testemunho, o manobrista do restaurante onde Carli Filho tomou vinho antes do acidente disse que viu o réu embriagado, saindo carregado, cambaleando e tropeçando.
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