Para chegar à Ilha de Piaçaguera, em Paranaguá, ou ao acampamento 1.º de Agosto, em Cascavel, 11 dos 24 professores que trabalham nesses locais precisam pegar carona ou pagar a travessia de barco para chegar até as escolas. Na Escola Zumbi dos Palmares, dos 19 docentes, que são contratados pelo estado, sete moram em Cascavel e percorrem todos os dias cerca de 20 quilômetros para chegar ao trabalho. O transporte é a maior dificuldade dos educadores.

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O professor Sebastião Felipe Filho, 39 anos, tem um Monza e divide a despesa de combustível com outros três colegas. "Quando chove, a estrada de chão fica ruim e algumas vezes não dá para chegar ao acampamento de carro", diz Felipe. "Se for pensar do lado financeiro, não compensa pelas despesas que você tem de deslocamento até aqui [acampamento]. Mas o professor não trabalha só pelo dinheiro, ele tem uma vocação, que é a educação", diz o professor Sebastião, de Cascavel. Ele atua com os "sem-terrinha" desde o início do ano.

Já na escola da Ilha de Piaçaguera quatro dos cinco professores que lá lecionam atravessam o mar duas vezes pelo menos em três dos cinco dias letivos da semana. A travessia dura aproximadamente 30 minutos e é feita em uma pequena embarcação, sem qualquer cobertura. Em dias de chuva ou frio, a proteção é feita com uma lona preta. Os quatro docentes dividem a despesa com o barco, que soma R$ 350 por mês. A travessia, assim como o desembarque, é determinada pelas condições da maré. "Já chegamos a ter de andar na lama", lembra a professora de Ciências, Matemática e Educação Artística, Kátia Folha dos Santos, 41 anos. Após a chegada ao trapiche da ilha, os professores precisam caminhar cerca de um quilômetro até a escola.

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O coordenador da escola, Hermes Goldenstein Júnior, ressalta que a travessia é perigosa não só pelas condições adversas da maré e da correnteza, mas também pelo espaço que a pe-quena embarcação tem de disputar com navios ou embarcações de grande porte. A Ilha de Piaçaguera é uma das mais próximas do porto de Paranaguá. Goldenstein lembra de um dos deslocamentos mais perigosos que fez. Foi no ano passado e o barqueiro não viu um rebocador de navio. "Conseguimos parar, a 30 metros [da embarcação]. Se não tivéssemos conseguido parar com certeza íamos virar", conta.

Não faltam casos pitorescos sobre as travessias. "No primeiro dia de aula deste ano o leme do barco quebrou antes de chegar no trapiche", recorda Goldenstein.

Auxílio

A chefe do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria de Estado de Educação, Fátima Yokohama, ressalta que os professores recebem auxílio-transporte proporcional às horas que trabalham em sala de aula. Se o docente leciona 20 horas, por exemplo, recebe R$ 150 por mês. O valor dobra se o professor é contratado por 40 horas. Porém, de acordo com Goldenstein, o valor é insuficiente para cobrir as despesas com ônibus mais a travessia de barco. Ele chega a gastar R$ 50 por mês a mais do que recebe pelo transporte.

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