Os sem-terra paraguaios acampados na cidade de Ñacunday, a 75 quilômetros de Foz do Iguaçu, ameaçam ocupar na madrugada desta sexta-feira áreas agrícolas pertencentes a brasiguaios. Pelo rádio transmissor, Rosalino Casco, um dos líderes dos "carperos", convocou homens, mulheres e crianças para a última reunião antes da invasão. Pulando e aos gritos, com facões e machados nas mãos, o grupo mostrava disposição para um possível enfrentamento. "Acabou a nossa paciência. Como esse governo [do presidente Fernando Lugo] não resolveu, nós vamos resolver", disse Casco, pai de seis filhos, todos nascidos no acampamento.
Os "carperos" ingressaram nesta semana com uma denúncia na Corte Internacional da ONU solicitando intervenção para resolver a questão agrária paraguaia. Eles lutam há 13 anos para obter a posse de 167 mil hectares que ficam na fronteira com o Brasil e que, segundo eles, são ocupadas ilegalmente pelos brasiguaios.
Essas propriedades, conhecidas como "terras fiscais", não poderiam estar sendo ocupadas por fazendeiros estrangeiros, de acordo com a lei paraguaia. "Estamos acampados aqui em condições precárias, sem água, sem energia elétrica, sem alimentos suficientes, e ninguém do governo (paraguaio) veio nos ajudar. Por isso, estamos pedindo socorro à ONU", disse Victorino Lopez Cardozo, um dos líderes sem-terra.
Armados
Temendo violência no campo, os produtores brasiguaios não só reforçaram a segurança, com armas a tiracolo, como tiraram das lavouras boa parte do maquinário pesado. Teriam aumentado, no entanto, o volume de munições. O acampamento, por sua vez, cresce a cada hora.
Carros dos mais variados, incluindo modelos novos de caminhonetes e jeeps, cruzavam ontem os 40 quilômetros de estrada de terra até a área onde a maior parte dos sem-terra vive. A estimativa é que o número de sem-terra chegue a 10 mil. Os sem-terra pretendem montar pequenas casas de alvenaria onde hoje cresce plantação de soja, principalmente. Eles mesmos deram 24 horas, depois da ocupação, para que as casas já estejam de pé.
Medo
Pedindo para não se identificar, um pequeno agricultor brasileiro não esconde a preocupação em perder os R$ 40 mil que investiu no passado. Em sua área, planta grãos e também começa a criar gados. "Nós viemos para cá para trabalhar, e não vou deixar paraguaio nenhum levar o que consegui com tanto suor", afirmou um paranaense, casado, sem filhos e que pediu para não ter o nome divulgado.
Um pequeno grupo de sete policiais acompanha o movimento dos sem-terra a distância. De vez em quando, atravessam a rua barrenta do acampamento sem despertar qualquer interesse dos campesinos.
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