Um dia depois de o governo paraguaio anunciar que retiraria terras públicas das mãos de quem as tenha ocupado irregularmente, milhares de carperos acampados em duas propriedades de Ñacunday, no estado de Alto Paraná, começaram a avançar ontem sobre áreas do Grupo Favero, tidas como as mais produtivas da região.
Os sem-terra ainda ocupam parte dos terrenos que deveriam ser reintegrados a seus donos, todos brasileiros, como determinou na sexta-feira a Justiça do país. De acordo com o líder dos carperos, Victoriano López, metade das 7 mil pessoas acampadas começaram a montar barracas em outra área próxima.
"Estamos deixando a área e nos ajeitando debaixo do linhão porque não temos para onde ir", rebateu López ao ser questionado por que estariam avançando sobre as propriedades do brasileiro Tranquilo Favero, o maior produtor individual de soja no Paraguai. "Este senhor, Favero, não tem terras aqui. Ele sim é um invasor."
Os sem-terra derrubaram a soja usando máquinas para fincar estacas e erguer lonas. Os carperos reivindicam uma área de 167 mil hectares de terras que alegam serem públicas e que estariam sendo exploradas ilegalmente por brasileiros.
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, disse na segunda-feira que irregularidades devem ser tratadas na Justiça. "Esta semana seria cumprida a ordem de reintegração de posse da área. Eles [carperos] se adiantaram e estão invadindo outras terras, sem que o governo faça nada", disse o membro da Coordenadora Agrícola do Paraguai, Márcio Giordani.
O Grupo Favero fará hoje à Justiça o pedido de reintegração de posse. "Como já temos decisões favoráveis das últimas invasões, acredito que até o final desta semana ou início da próxima a ordem de despejo seja emitida", avalia o assessor jurídico José Costas Arriagada.