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Lista de falecimentos - 31/10/2015

Carpideiras, panos brancos sobre os objetos e santinhos: o que restou do “morrer de antigamente”?

 | Ilustração/Felipe Lima
(Foto: Ilustração/Felipe Lima)

“A única certeza da vida é a morte”: o mundo evoluiu, as tecnologias e os hábitos também, mas ainda não se encontrou uma solução para driblar a morte. Apesar disso, as características dos velórios e os costumes durante os sepultamentos não ficaram parados no tempo. As mudanças acabaram tornando “o morrer de antigamente” um evento, por vezes, inusitado.

A diferença mais marcante é o local escolhido para se despedir de quem partiu. A casa era o principal ponto de encontro entre parentes e amigos com o corpo do falecido. O encontro ocorria no ambiente mais amplo da residência, mas não sem antes ele ser devidamente preparado para a solenidade da despedida. As janelas eram cobertas com panos escuros – normalmente roxos – e os móveis, todos retirados. Os objetos que não conseguiam ser arrastados eram cobertos com panos brancos. No local, dividiam espaço o caixão aberto, o falecido, cadeiras postas ao redor da sala, flores e velas acesas. Era assim a montagem mais comum do ambiente do velório caseiro.

Morrer acabava se tornando um verdadeiro evento, sempre com um entra e sai da casa. O tempo de despedida também era um ponto importante dos velórios. O mais comum era que eles durassem um dia todo e varassem a madrugada até o dia seguinte, no qual o falecido era sepultado. Para as pessoas conseguirem se manter firmes ao lado do caixão, muito café e pratos como sopas eram feitos pela família.

Em alguns casos, quando quem faleceu gostava mesmo de se divertir, a família preparava até uma espécie de festa, que apesar do momento de luto era cercada de cantorias, churrascos e bebidas. Beber no luto chamava-se “beber o morto” –conforme a bebida ia sendo consumida, as boas lembranças de quem se foi costumavam surgir. Novamente, o velório poderia até acabar em festa.

Saindo de casa, o “evento” continuava. Seguia-se pela cidade até o cemitério. Era um verdadeiro cortejo, no qual o trajeto era feito normalmente caminhando. O caixão, carregado na mão pelos parentes, era quem guiava o restante dos presentes até o local de sepultamento. No meio do percurso também era quase uma obrigação passar em frente da igreja da cidade, para “encomendar” o corpo de quem faleceu.

Em meio a toda a pompa dos velórios feitos em casa, era marcante também a presença das carpideiras. As moças eram “atrizes” contratadas pelas família para chorar sobre o caixão. As mulheres faziam o “serviço completo”: iam de preto para representar o luto, levavam os terços e, o mais importante, derramavam muitas lágrimas. Acredita-se que o choro das carpideiras ajudava a alma do morto a chegar até o céu.

Para completar o velório e o cortejo vinha o luto. Levado a sério pelas esposas e pelos maridos. A viúva ficava um ano inteiro após a partida do companheiro vestindo somente roupas pretas. Em casos mais extremos, mulheres ficavam por períodos ainda maiores enlutadas pela partida do marido. Relatos mais recentes apontam também para os casos em que se ficava por um ano sem assistir televisão, em respeito a quem partiu. Aos homens o luto mais comum não era abrir mão das cores das roupas, mas sim incluir uma faixa preta na manga da camisa.

Passada uma semana da partida vinham as missas de sétimo dia, ainda presentes nos dias de hoje. Durante as missas, o detalhe especial: santinhos com a foto de quem se foi acompanhada de uma mensagem de conforto eram distribuídos para quem fosse à igreja na ocasião. O número de missas celebradas também mostrava o quão importante havia sido a pessoa em vida ou também poderia representar o quanto as pessoas se arrependiam das atitudes que tiveram para com o falecido quando ele ainda estava vivo.

Lista de falecimentos - 31/10/2015

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