O posto rodoviário de Santa Terezinha do Itaipu, no Oeste do Paraná, é o que tem maior número de automóveis abandonados e acidentados| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

O que poderia ser um transtorno para as Polícias Rodoviárias Federal (PRF) e Estadual (PRE) acabou adquirindo uma função educativa. Sem ter outra saída senão fazer a guarda dos veículos acidentados abandonados e que não podem ser leiloados conforme previsto em lei, os policiais encontraram uma forma de usá-los para alertar os motoristas. "Desenvolvemos campanhas de prevenção de acidentes e colocamos os veículos [acidentados] em exposição nas praças das concessionárias de pedágio", conta o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF em Foz do Iguaçu, Marcos Pierre Carvalho.

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Doutora em Ciências Huma­­nas e Coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (NPT-UFPR), Iara Thielen afirma que existem pesquisas que mostram que os condutores tendem a diminuir a velocidade com que estão dirigindo depois de passarem por um acidente. "Podemos levantar uma hipótese de que a visualização de um veículo acidentado cause a mesma reação", diz. Segundo ela, a visualização do automóvel destruído causa um choque de realidade porque torna o risco real, contrapondo o controle que as pessoas acreditam ter ao dirigir.

O inspetor Pierre ressalta também que os motoristas têm a impressão de que os carros mais modernos são mais seguros por causa do sistema de airbag (ou bolsa de ar) e do sistema de freios antitravamento (mais conhecido como freios ABS, sigla do termo em inglês anti-lock braking system). "Mas quando a destruição é grande, eles percebem que a segurança é relativa e que os veículos podem ser destruídos", comenta. O policial conta também que no posto rodoviário de Santa Terezinha do Itaipu é comum motoristas pararem para ver um veículo envolvido em um acidente de grande repercussão. "Uma vez um casal quis mostrar os carros para o filho que tinha começado a fazer aulas na autoescola", lembra. O posto, nas proximidades de Foz do Iguaçu, é o que tem maior número de automóveis acidentados – o total de veículos não foi informado pela PRF.

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Em todo o Paraná, dos cerca de 2,7 mil carros espalhados nos postos da PRE, 1,5 mil foram abandonados por seus proprietários após acidentes. O mais antigo deles, é um Fusca 77 que permanece há 2.930 dias (pouco mais de oito anos) no pátio do posto da rodovia Alexandra-Ma­­tinhos, no litoral paranaense. Já a PRF recolhe uma média de 738 veículos por mês em todo o estado. Cerca de 400 são retirados pelos proprietários em aproximadamente 280 dias. O restante permanece sob a responsabilidade dos policiais rodoviários.

De acordo com o inspetor Pierre, geralmente os veículos são abandonados porque tiveram perda total e não estavam assegurados. O proprietário acaba não vendo vantagem em re­­tirá-lo, principalmente se o veículo está com documentação ou pagamento de impostos pendentes. Em sua grande maioria, 70% no caso dos veículos apreendidos pelos policiais federais, os carros não podem ser leiloados porque apresentam impedimento jurídico.

Retirada de veículos

O proprietário tem 90 dias para resgatar o carro recolhido após um acidente. Depois desse período, segundo o inspetor da PRF Ismael Oliveira, uma notificação é encaminhada para o endereço da pessoa cadastrada como dona do carro. Se ninguém aparecer nos próximos 30 dias, uma nova notificação é publicada em diário oficial. O proprietário ganha, então, o prazo de mais um mês. A última tentativa de encontrar o dono do veículo é a publicação de mais um informe em um jornal de grande circulação. Se mesmo com todos esses prazos nenhuma pessoa se manifestar, o veículo pode finalmente ser leiloado. O automóvel é vendido como sucata e o valor arrecadado serve para bancar as despesas geradas pela guarda do carro, incluindo também os gastos com o leilão. "Na maior parte das vezes ainda sobra um passivo e o ex-proprietário é notificado, mas esse valor quase nunca re­­torna", explica o inspetor.