No próximo dia 5, ele deve defender a abertura, pelo menos parcial, da Rua XV de Novembro, em Curitiba, em um debate promovido pela Associação Comercial do Paraná para discutir a revitalização da região, proposta pela organização Centro Vivo. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná, mestre e doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Salvador Gnoato, 53 anos, tem muito mais a oferecer do que seus planos pouco ortodoxos para a Rua XV. Como coordenador do Docomomo Núcleo Paraná, ele trabalha em favor do patrimônio modernista de Curitiba nos programas de preservação arquitetônica. Em entrevista à Gazeta do Povo, o urbanista fala dos próximos desafios urbanos de Curitiba, além de suas idéias para o Centro da cidade.
Por que acabar com o calçadão da Rua XV?
Em Curitiba, quando se percebeu que o trânsito iria ficar estrangulado, fez-se toda uma ação para retirar os carros dali. Talvez tenha se exagerado na dose. A Rua Monsenhor Celso poderia, seguramente, ser aberta. É uma rua secundária e faria uma ligação importante entre a Praça Tiradentes e a Marechal Deodoro. Acho que não dá para ter mais do que uma quadra fechada, porque o cidadão vai ficar longe do seu carro e o Centro vai acabar isolado.
O calçadão já é um marco histórico da cidade. Não existe uma resistência grande à abertura?
É uma questão de dosagem, de uma nova vanguarda, não se trata de desmanchar uma coisa que é boa. É para ficar melhor do que está. A idéia é valorizar a história da rua. Tenho exemplos de outros calçadões, em Curitiba mesmo, que podem inspirar as mudanças na XV. Um é o da Boca Maldita. Ali, eu consigo chegar de carro. Como no resto da Rua XV não consigo entrar com um veículo, o uso acaba restrito.
Como seria essa rua?
Não sei dizer como seria essa rua, eu só acho que poderia ter uma rua para carros pequenos circularem e isso poderia ser usado turisticamente. Talvez uma estratégia mais importante seria a implantação de estacionamentos. A prefeitura poderia fazer parcerias com a iniciativa privada para criar estacionamentos embaixo das praças, ruas ou prédios, fazendo com que as pessoas usem mais a Rua XV. Outra solução é desenvolver espaços alternativos para jovens universitários e artistas. Ou ainda espaços para atividades da terceira idade. O comércio, que hoje atende o público que utiliza ônibus, mudaria um pouco de perfil, para atender também a classe média.
Esse modelo traria vitalidade para a Rua XV?
Citando Jane Jacobs, autora do livro Morte e Vida das Grandes Cidades, de 1962, a rua é mais rica e mais segura quanto maiores forem suas funções e mais diversas forem as classes sociais que a utilizam. Um exemplo onde isso é bem dosado é a Rua Comendador Araújo, entre a Praça Osório e a Avenida Batel. O uso dela é todo misturado. Ela tem lojas, hotéis, posto de gasolina, mercado, shopping. Riquíssimo.
Curitiba está perdendo sua identidade urbanística?
O que caracteriza Curitiba são as ruas. A Rua XV é o calçadão. Tem as canaletas de ônibus. As vias coletoras, como a Vicente Machado, a Mateus Leme e a Anita Garibaldi, que são antigos caminhos da cidade. Esses pontos também merecem algum tipo de incentivo. Mas a cidade, aos poucos, está desenvolvendo ações, talvez na mesma escala que fez na década de 70, no sentido de se reconhecer como metrópole. A primeira ação nessa direção foi o Olho do Niemeyer [no MON]. Depois de ser equipada pelos parques, está sendo ocupada por espaços culturais mais intensos. Da inauguração do shopping Müeller, há 25 anos, hoje nós já temos porções de shoppings em escala de metrópole.
Qual seria o principal desafio de Curitiba daqui em diante?
O maior debate é o Eixo Metropolitano, a antiga BR-116. A prefeitura está tendo dificuldade para viabilizar o projeto. Mas é questão de tempo para isso acontecer. A comparação com os eixos estruturais antigos é muito forte, porque já se passaram mais de 30 anos e eles já estão consolidados. Mas o Eixo Metropolitano terá uma relação mais próxima com as cidades da região metropolitana. Os municípios vão acabar criando novos centros empresariais, novos centros residenciais, novas áreas de prestação de serviço, com o mesmo conceito curitibano de urbanismo.
Por que existe essa dificuldade de consolidação do eixo?
A ocupação vai ocorrer se houver um crescimento econômico da sociedade, mas o poder público não tem condições de fazer edifícios habitacionais. Pode financiar a infra-estrutura, mas o desenvolvimento do eixo só será alcançado nos próximos dez ou 20 anos. Isso não é responsabilidade da prefeitura. É a sociedade que tem que se preocupar em como fazer para ocupar esse espaço.
A transformação da rodovia seria o principal desafio urbano?
Sem dúvida, no sentido macro. E ao se consolidar o eixo, a cidade vai se tornar uma metrópole. Não será mais a Curitiba com um milhão e meio de pessoas, mas a Grande Curitiba, com 2,5 milhão de habitantes.
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