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Grande parte dos 8 mil casos de mordidas de cachorros registrados anualmente nos hospitais de Curitiba é de trabalhadores que atuam nas ruas. É raro encontrar carteiros ou coletores de lixo que não tenham sido vítimas de ataques. Não só de cães que estão soltos – estima-se que 144 mil, 60% da população canina, esteja abandonada nas ruas –, mas, nesse caso, principalmente de cães que têm proprietários e estão dentro das casas.

O problema está na localização das caixas de correio e das cestas de lixo. Dependendo da altura e da distância que estiverem do muro ou da grade, tornam-se riscos potenciais para os trabalhadores.

Conforme explica o técnico em segurança do trabalho dos Correios, Paulo Roberto Pinto Pereira, o mais comum é ataque dos cachorros que estão dentro das casas. "Se a abertura da caixa estiver voltada para a residência, o carteiro terá que pôr o braço para dentro, tornando-se alvo fácil para o cachorro", explica o técnico.

Até julho, os Correios registraram 18 casos de funcionários mordidos por cães em Curitiba – próximo de 2% do total de acidentes de trabalho. Entre os mais graves, uma carteira teve a mama atingida por um cachorro. "Nesse caso, além do ferimento, a funcionária ficou com trauma", comenta Pereira.

Entre os lixeiros, os relatos não são diferentes. Cada coletor mordido fica de quatro a sete dias afastado do trabalho, como o caso de Edvaldo Olegário Faustino. Duas vezes ferido por cachorros, o coletor ficou no primeiro acidente sete dias afastado e no segundo, quatro.

Numa das mordidas, uma senhora trazia o lixo atrasada. Quando estava para abrir o portão, Edvaldo ainda perguntou se o cachorro era manso. A proprietária respondeu que sim. Não adiantou: o animal atacou. "A desculpa é sempre a mesma, de que o cachorro não é brabo. Mas não é brabo para o dono", critica Edvaldo.

Já Valmir Cleverson de Paula, também duas mordidas, teve que fugir de um pit bull solto na rua. Ele chegou a subir no teto do caminhão de lixo para se proteger e mesmo assim quase foi pego. "O bicho foi subindo no caminhão, muito brabo", recorda-se. De tantos ataques, Valmir admite ter trauma psicológico. "Desde que estou na coleta tenho medo de cachorro. Só vou pegar o lixo se tiver certeza mesmo que o cachorro está preso", ressalta.

Para evitar acidentes, a assistente social da Cavo, empresa que administra a coleta de lixo, Carla Bonatti, recomenda à população que redobre o cuidado com os cães nos dias de coleta. "O ideal é que a pessoa não descuide do portão, como na entrada ou saída de carros, por exemplo, porque se o cachorro sai, vai direto no coletor", argumenta.

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