Em cima do muro

Lado A

• Os condomínios fechados romperam a divisão centro–periferia. Fora dos espaços mais urbanizados, levam um novo padrão de moradia para os arrabaldes, ainda que não façam parte deles.

• Terrenos e preço do condomínio são razoáveis se comparados aos empreendimentos centrais.

Lado B

• Os condomínios fechados saltaram da média de 50 casas para até 300 casas.

• Não há legislação específica para condomínios horizontais. Depende de negociações com o município, que se responsabiliza pela urbanização do loteamento. A parte do condomínio é regida por convenção de moradores.

• Algumas cidades, como Londrina, estão sendo remapeadas pelos condomínios fechados. Nos últimos cinco anos, a Diretoria de Loteamentos aprovou 25 condomínios ou loteamentos fechados. Em setembro de 2005, havia 3.894 famílias vivendo nesses locais, o que faz da cidade um marco do setor.

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A classe média vai ao paraíso. Nos últimos cinco anos, a febre de condomínios fechados pegou de jeito famílias com renda média entre R$ 2 mil e R$ 5 mil, uma clientela que virou a menina dos olhos das incorporadoras – empresas que fazem o loteamento e cuidam da infra-estrutura dos terrenos. A estratégia para convencer a população de renda modesta é a mesma usada para quem se muda para os bairros de luxo – segurança, conforto e economia. Isso mesmo. As taxas no fim do mês são em conta – R$ 40 num mediano, R$ 200 no Alphaville Graciosa – e, diferentemente dos apartamentos, não há o incômodo de ter de somar áreas comuns, como garagem e corredores, à metragem do imóvel. Somando tudo, muitos concluem ter feito um negócio da China.

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O sonho de morar em uma casa, com espaço para as crianças brincarem e garantias mínimas de não receber visitas indesejáveis, fala mais alto na hora da escolha. Sem falar no argumento que cega – o do status de residir num tipo de bairro que antes só parecia existir em filmes americanos.

O administrador de empresas José Luiz Muggiati, 36 anos, calcula ter urbanizado cerca de 500 terrenos de nível médio em cinco anos e tem mais 500 em produção. Os preços em sua incorporadora variam de R$ 30 mil, na Barreirinha, a R$ 85 mil, na hoje valorizada Zona Sul. No momento, Muggiati anda às voltas com um condomínio de 150 terrenos na Fazendinha, um bairro "das antigas" que aos poucos recupera a fama de bom lugar para viver.

"Estou investindo na classe média baixa. O comprador encontra cerca elétrica, vidro blindado na guarita, garagem 24 horas. Discordo que seja um modelo artificial. É anti-estresse. É como dar um pulo na praia, só que dá para fazer todo dia", diz, recorrendo ao argumento infalível da segurança, convincente o bastante para levar, só em 2006, 1.725 famílias curitibanas a viver nessas pequenas cidades muradas – à revelia da mão-de-obra na hora de ir ao mercado ou à padaria.

Para os lados

Como Curitiba está vivendo no limite – quase não há mais área livre para projetos dessa monta –, as incorporadoras decidiram engordar para os lados e lançam os tentáculos para a região metropolitana. A tendência já se desenha há alguns anos. Foi em 2001, por exemplo, que Pinhais ganhou o Alphaville Graciosa, uma área de 2,4 milhões de metros quadrados – pouco maior que o Parolin e pouco menor que o Guabirotuba –, com 1,2 mil lotes de 700 metros quadrados, orçado em R$ 130 mil cada.

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É para gente graúda. Já estão construídas cerca de 300 casas – nenhuma com menos de 250 metros quadrados – assim como a área que faz do lugar um condomínio fechado típico. Tem "tudo": shopping, campo de golfe de 18 buracos, clube, segurança móvel (monitorando inclusive nos bairros vizinhos, como a paupérrima Vila Zumbi) – entre outros serviços voltados para uma população bastante jovem, entre 25 e 45 anos de idade – de acordo com dados do empreendimento.

O projeto é do escritório de Alfred Willer, um dos decanos da arquitetura paranaense, vivido o bastante para nem endeusar nem demonizar os condomínios fechados. Em conversa com a reportagem da Gazeta do Povo, ao mesmo tempo em que descreve o projeto, critica o mundo que o levou a existir. "Condomínios são uma contingência dos países com problema de violência. Seria melhor que não fossem necessários, claro. Os moradores se isolam e abandonam a rua, que fica à disposição da marginalidade e ainda mais perigosa", constata.