Todos por um
Moradores colaboram com o orçamento e sonham com o futuro
Quando teve a ideia de acolher pessoas que queriam deixar as drogas, Márcio Eduardo da Silva ainda trabalhava como porteiro. Com a chegada dos hóspedes, ele foi percebendo que precisaria de mais tempo para se dedicar à iniciativa. Passou a contar com a ajuda mensal de um amigo, no valor de R$ 600, para colocar em prática seus planos e cuidar integralmente do projeto. Hoje, os repasses cessaram, mas os moradores da Casa Verde que conseguem trabalho também passaram a colaborar.
Com histórias diversas, a maioria marcada pelo tráfico, os moradores dizem receber o apoio necessário para buscar a reinserção social. De Rondonópolis, Mato Grosso, Tiago Lemos, conheceu a Casa Verde depois que foi parar no terminal rodoviário de Londrina sem dinheiro para uma passagem rumo ao Rio de Janeiro. Sem ter para onde ir e com problemas familiares ligados ao uso de entorpecentes, ele não titubeou em aceitar a ajuda de Márcio. Hoje, o jovem trabalha na construção civil e planeja tirar carteira de habilitação. "Vejo outros meninos que passaram por aqui que hoje estão melhores que eu. É um incentivo", define.
O apoio da comunidade
Se no início, a ação de Márcio despertou olhar torto de alguns vizinhos, hoje a Casa Verde está se tornando referência no Jardim Pindorama. Não é raro o morador receber a visita de mães que o procuram para ajudá-las a enfrentar o problema das drogas com seus filhos. "Aos poucos, os vizinhos viram que alguém tinha que tomar uma iniciativa", comenta. No futuro, Márcio tem a intenção de estender o trabalho para outros bairros.
Dividir o que se tem com o próximo, sem preconceitos. Ex-porteiro, o londrinense Márcio Eduardo Silva, 32, leva este lema bem a sério. Há aproximadamente um ano, ele abriu a casa onde morava sozinho, no Jardim Pindorama, para dependentes químicos interessados em deixar as drogas e sair das ruas. O convite também foi estendido a ex-presidiários e outras pessoas em situação de vulnerabilidade social que, aos poucos, chegavam até ele. Com o nome de Casa Verde em alusão à cor da residência , a iniciativa de Márcio já recebeu cerca de 30 pessoas nos últimos seis meses e acaba de vencer o Prêmio Londrina de Cidadania, promovido pelo Observatório de Gestão Pública do município.
Mais que abrigo e alimentação, o rapaz foi em busca de parceiros para oferecer oficinas aos moradores da Casa Verde. A turma tem oportunidade de aprender artesanato, frequentar reuniões dos narcóticos anônimos e ter atendimento de saúde bucal e assistência social. Toda essa mobilização partiu da insatisfação do dono da casa ao ver pessoas vivendo nas ruas, entregues ao tráfico de drogas. Márcio começou oferecendo café da manhã a elas, depois acolheu duas ou três. Sentia, no entanto, que ainda era muito pouco dentro do que estava disposto a fazer. Passou a acolhê-las em número maior. Desde então, a Casa Verde recebeu até 13 pessoas ao mesmo tempo.
"Vejo no Evangelho um Cristo que andava com os excluídos e isso me motiva" define Márcio, sem se incomodar em fazer um trabalho que, para algumas pessoas, deveria ser encabeçado pelo poder público. "Isso também é responsabilidade nossa, é papel do cidadão. Se você vê alguém passando necessidade e finge que não vê, está agindo errado. Todos podemos fazer alguma coisa", diz.
Hoje, Márcio e oito pessoas vivem na Casa Verde. O espaço é modesto sala, cozinha, dois quartos e banheiro, e os moradores dividem funções como cozinhar e cuidar da limpeza. Márcio, que dorme na sala, afirma que leva uma boa convivência com cada um dos que acolheu. "Aprendi a me adaptar com tudo isso. Eles são os meus amigos hoje", comenta. Todos podem permanecer na casa pelo tempo que quiserem.
Com o prêmio do Observatório, R$ 5 mil, o ex-porteiro já planeja uma reforma para oferecer refeitório e mais banheiros no local. Outro projeto é usar um terreno baldio nas proximidades para ministrar oficinas a crianças do bairro. Ação deve ter mão de obra voluntária e contar com uma campanha na internet para arrecadar dinheiro para materiais de construção. A previsão é que as atividades com a comunidade tenham início em março próximo.
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