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após a tragédia

Casa nova, dois anos depois

2009 -A família de Zélia Rodrigues na moradia provisória no bairro Garcia, em Blumenau, há um ano: falta de privacidade | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
2009 -A família de Zélia Rodrigues na moradia provisória no bairro Garcia, em Blumenau, há um ano: falta de privacidade (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)
2010 -[|**|]Há uma semana, a família se mudou para um novo apartamento.

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2010 -[|**|]Há uma semana, a família se mudou para um novo apartamento.

2009 -[|**|]A família do jardineiro Jorge Luiz da Silva vivia em um espaço improvisado, escuro e com pouca ventilação |

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2009 -[|**|]A família do jardineiro Jorge Luiz da Silva vivia em um espaço improvisado, escuro e com pouca ventilação

2010 -[|**|]Hoje, a felicidade retornou: Jorge voltou a trabalhar e se mudou com os nove filhos para o novo apartamento |

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2010 -[|**|]Hoje, a felicidade retornou: Jorge voltou a trabalhar e se mudou com os nove filhos para o novo apartamento

Reconstrução Santa Catarina

+ VÍDEOS

Tomar banho sem precisar dividir o banheiro, preparar uma refeição na cozinha sem ter de sair de casa, dormir tranquilamente sem o risco de ser acordado pelo despertador do vizinho. Noventa e seis famílias da cidade de Blume­­nau, em Santa Catarina, levaram quase dois anos para retomar esses hábitos simples. Elas estão entre as vítimas da enxurrada do dia 23 de novembro de 2008, que causou 135 mortes no estado há exatos dois anos. Essas famílias passaram por abrigos, casas de parentes e, desde fevereiro de 2009, viviam em lares improvisados em galpões e escolas. Há uma semana, mudaram-se novamente. Desta vez para a casa nova.

Três edifícios foram construídos pelo poder público na cidade. Cada brasileiro que fez sua doação colaborou na empreitada: a compra do terreno, de R$ 8,2 milhões, foi feita com esses recursos. Mas o processo de construção foi lento e 14 meses foram perdidos na burocracia, diz a prefeitura de Blu­­menau. As primeiras famílias receberam seus apartamentos apenas na metade deste mês. Cerca de 140 famílias continuam vivendo nas moradias provisórias e a expectativa é que se mudem no início de 2011.

Enquanto uns ainda esperam, outros comemoram. ?A felicidade voltou de novo?, diz a pensionista Zélia Rodrigues da Silva, 59 anos, uma das beneficiadas. Enquanto estava na moradia provisória, Zélia observava o apartamento vizinho pela janela e imaginava como seria seu novo lar. Ao voltar o olhar para o interior da sua ?casa?, ela desanimava.

Na moradia, os espaços são delimitados por divisões de madeira, onde as pessoas conseguem montar sala e quartos privativos. Mas banheiros, cozinhas, chuveiros e área de serviço são todos compartilhados entre os moradores, que eram responsáveis pela limpeza. Zélia reclamava da sujeira desses locais, do barulho, da falta de privacidade, do calor e do problema de alcoolismo entre alguns moradores. Em 2009, a reportagem da Gazeta do Povo entrevistou a pensionista, que estava doente. ?Tenho medo de não aguentar e não chegar a sair daqui?, disse. Hoje o cenário é outro: está namorando, aprendeu a fazer artesanato e tem novos amigos.

A mudança não foi só no endereço: está visível no rosto de cada um. Na moradia, o jardineiro Jorge Luiz da Silva, 41 anos, emagreceu e perdeu o ânimo para trabalhar. Morava com nove filhos em um espaço escuro e com pouca ventilação. O jardineiro diz que procurou um espaço para alugar, mas que os proprietários recusavam porque a família era muito grande. Aos poucos, foi desistindo até de trabalhar ? preferia ficar em casa, com medo de que algo acontecesse com as crianças. Em meio a isso, a esposa aguardava o décimo filho.

Com a possibilidade da nova casa, a alegria aos poucos foi voltando. ?É outra vida. Agora dormimos bem. Não fico estressado?, afirma Jorge, que se mudou para o novo apartamento com a mulher e os nove filhos. ?Fazia tempo que não dava uma beijoca e abraçava minha esposa.? Ele tem emprego fixo e nos fins de semana é chamado para serviços temporários.

Já a desempregada Isaura Gas­­peri, 49 anos, aproveitou o período em que viveu no espaço provisório para economizar. Como os moradores não pagavam água, luz nem gás, ela conseguiu juntar dinheiro e comprou móveis e eletrodomésticos, que hoje equipam a casa nova. ?Não adianta desanimar. Tem de correr atrás do que foi perdido?, diz Isaura. Segundo ela, havia moradores que se aproveitavam da situação e não queriam deixar o local. Isaura conta que na moradia estavam pessoas que viviam de aluguel antes da tragédia e que agora poderão receber uma casa.

Contratos

Para receber o apartamento, as famílias têm de pagar prestações mensais, no valor de 10% da renda familiar, durante dez anos. Segundo o secretário municipal de Assistência Social de Blu­­menau, Mário Hilde­­brandt, o empreendimento irá custar de R$ 6 mil a R$ 17 mil para as famílias.

Elas foram enquadradas no programa Minha Casa Minha Vida, da Caixa Econômica Fe­­deral, que construiu os edifícios. De acordo com Hildebrandt, as obras demoraram porque o programa federal não foi concebido para atender vítimas de tragédia em situação emergencial. ?Tive­mos de seguir os trâmites e não conseguimos agilizar muito?, diz o secretário.

Outros 1.740 apartamentos es­­tão em construção na cidade e a previsão é que sejam entregues até o início de 2011 (também ganharão casas novas moradores de áreas de risco, que serão removidos, e famílias que já estavam na fila de espera antes da tragédia de 2008). Dessa forma, duas moradias provisórias continuarão em funcionamento na cidade. Os moradores continuarão dormindo no local, mas em sonho estarão na casa nova.

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