Onze pessoas morrem assassinadas toda semana em Curitiba. São 45 por mês, mais de 500 por ano. A maioria só ganha repercussão no âmbito familiar às vezes nem isso e raros são os casos em que a sociedade fica sabendo ou dá alguma importância. Incomodados com esta situação, os designers Julian Irusta e Bianca Cassilha se viram às voltas com duas incômodas perguntas: por que, dia após dia, pessoas são mortas e nada muda? Por que se esquece tão facilmente daqueles que morreram?
Deste inconformismo nasceu o movimento "Pintando a Violência", com o objetivo de marcar com tinta os locais de crime em Curitiba, onde pessoas foram mortas.
Eles já pintaram dois pontos. O primeiro fica na Rua Paula Gomes, no bairro São Francisco, onde no dia 21 de agosto a universitária Ana Cláudia Caron, 18 anos, foi abordada por dois adolescentes usuários de drogas que a mataram depois de estuprá-la. O outro fica na esquina da Alameda Cabral com a Rua Saldanha Marinho, on-de o empresário José Leveke foi morto a tiros por dois assaltantes no dia 31.
Bianca sentiu-se incomodada com a notícia da morte de Ana Cláudia. À noite, sonhou que estava no lugar da universitária morta. Também se sentiu omissa, pois mora há cinco anos no bairro e nunca avisou a polícia sobre os usuários de drogas que andavam por ali. Conversou então com o namorado e sócio Julian e juntos tentaram mobilizar um grupo de amigos para sinalizar o local onde Ana foi abordada pelos marginais. Apenas eles e alguns parentes apareceram para a pintura, no sábado passado, mas isso não foi motivo para desânimo.
Juntos, Bianca e Julian pintaram também o meio-fio da rua onde Leveke foi morto, com o nome dele e a data da morte escritos com tinta preta num fundo cor-de-rosa. Eles têm uma lista com mais 23 nomes, mas nem todos os locais de crime serão pintados, pois a maioria fica na periferia de Curitiba. São casos de pessoas mortas pelo tráfico de drogas, e poderia ser arriscado ir ao local para fazer a pintura.
O movimento, cuja síntese é "marcar para lembrar", está no início e ainda não tem muitas adesões. Os idealizadores esperam que outras pessoas também tenham iniciativa própria de sinalizar o local do homicídio de um amigo, de um parente ou vizinho. "É o nosso jeito de fazer com que essa violência brutal e injustificada não seja esquecida", diz Julian. O importante, diz Bianca, é que as mortes não caiam no esquecimento.
No blog que criou para debater o assunto (http://marcadaviolencia.blogspot.com), Julian apresenta uma quase-resposta para as duas perguntas que os incomodaram a ponto de iniciar este movimento: "Talvez porque sejam muitos os que morreram e a memória-de-brasileiro não permita ir muito longe com as lembranças, especialmente as desagradáveis. Então, as pessoas ficam indignadas durante o breve lapso de uma manchete de jornal. Depois esquecem." Amigos da universitária Ana Cláudia apagaram a pintura feita na Rua Paula Gomes, demonstrando, segundo Julian, exatamente a atitude que ele e Bianca tentam combater.
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