Christian, Olga e a filha Naila: volta ao mundo em duas rodas| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Paraná

Família muda o itinerário para renovar o visto de turista

Com o visto brasileiro prestes a expirar, a família Riedke teve de alterar o itinerário e sair do Brasil às pressas. A autorização de permanência para turistas estrangeiros é de 90 dias e, para evitar problemas com a imigração, eles seguiram de ônibus de Curitiba para Foz do Iguaçu, na esperança de cruzar a fronteira e conseguir renovar o visto para seguirem viajando pelo Brasil.

Se tudo der certo, eles voltam com as bicicletas para o litoral paranaense e seguirão pela costa, rumo a Salvador. Caso não consigam, o plano B é seguir pedalando pelo Paraguai, passando por Assunção e depois para Argentina e Chile. Depois disso, em qualquer uma das hipóteses, a família embarca com as bicicletas em um avião para a Nova Zelândia, na Oceania, onde devem pedalar por "mais alguns meses" antes de retornarem para a vida na Europa.

Apesar de descontente com a burocracia imigratória, Christian Riedke reconhece que, pela reciprocidade, um brasileiro enfrentaria a mesma situação se resolvesse pedalar pela Alemanha. O que deixa o alemão surpreso, entretanto, é a falta de respeito dos motoristas locais com aqueles que pedalam. "Já rodamos o mundo de bicicleta, mas a falta de respeito dos motoristas brasileiros é algo assustador", relata. "Não que todo motorista seja um louco, mas se apenas 10% age de forma desrespeitosa, isso já é o suficiente para provocar uma tragédia", diz.

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Inspiração

Cicloturista experiente, Christian Riedke recorre a laços familiares para explicar sua paixão pela bicicleta. Ele conta que seu avô cruzou a Alemanha de bike na década de 1920, entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial. "Cresci ouvindo com fascinação as histórias de sua grande aventura", relata. O avô morreu de enfarte aos 93 anos, sobre uma bicicleta, enquanto pedalava.

Com apenas dois anos e meio de idade, a pequena Naila já percorreu, de bicicleta, sete países em dois continentes – Alemanha, França, Espanha, Argentina, Chile, Uruguai e Brasil –, o que lhe confere um passaporte mais carimbado do que o de muito mochileiro barbado. Tudo isso antes mesmo de ter aprendido a pedalar com as próprias pernas. Filha do professor alemão Christian Riedke e da turismóloga espanhola Olga Avila Martorell, a menina está na estrada com os pais há quase um ano e cresce tendo o mundo como seu quintal.

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A bicicleta está ligada intimamente à história de amor do casal. Juntos, já rodaram o mundo, pedalando por 18 países na África, três na Europa, cinco na Ásia e 11 na América Latina em uma viagem que durou quatro anos. Após a grande aventura, em 2009, voltaram para a realidade: rotina, trabalho e contas para pagar.

Em seguida, veio Naila e, com ela, a promessa de pedalarem o mundo com a filha. "O difícil é coragem para quebrar as amarras e sair. Depois que começa, tudo fica mais fácil. Também há dificuldades na vida em casa", justifica Olga.

Cada um carrega mais de 50 quilos de equipamentos nas bicicletas. A maior, uma tandem – aquela bicicleta para duas pessoas – foi adaptada pelo pai para acomodar a cadeirinha da criança. A mãe ajuda e também pedala com os alforjes lotados.

Orgulhoso, Riedke conta que Naila praticamente sabe montar sozinha uma barraca de acampamento. "Ela ama camping. A barraca é a casa dela", complementa Olga.

De fato, tudo é encarado como uma grande brincadeira. Na barraca, Naila brinca de casinha. Com os utensílios de cozinha – usados para preparar as refeições dos viajantes –, ela prepara a comidinha imaginária para as duas bonecas de pano, que ganhou de presente de uma família enquanto passavam pela Argentina.

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Rotina

A família pedala no máximo quatro horas por dia. Quando não está dormindo na cadeirinha, o pai mostra a Naila as paisagens e atrativos dos locais por onde passam: a vaca, o passarinho, a árvore ou a praia acabam sendo mais interessantes que qualquer episódio da Galinha Pintadinha. Quando está entediada ou irritada, é hora de recorrer ao repertório de canções infantis para acalmá-la.

E de país em país, de cidade em cidade, a menina vai aumentando a sua bagagem. O vocabulário é limitado – como o de qualquer criança de 2 anos –, mas, tecnicamente, a menina fala e entende quatro idiomas: o catalão da mãe, o alemão do pai, além do espanhol e algumas palavras que aprendeu em português durante a viagem. "Para ela tudo é mágico. Essa é uma fase muito importante da vida, onde a criança começa a descobrir o mundo. Estamos proporcionando isso para a Naila de uma maneira muito especial", afirma o pai.