Local onde ocorreu o acidente envolvendo o ex-deputado estadual Carli FIilho tem cruz para relembrar o fato.| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Cronologia

7 mai 2009 – O carro conduzido pelo então deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho bate no veículo ocupado pelos jovens Gilmar Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida, durante a madrugada, na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski, no bairro Mossunguê, em Curitiba. Os rapazes morrem. Carli Filho é internado e fica um mês no hospital.

Mai 2009 – Testemunhas afirmam que o deputado bebeu antes de dirigir. Laudo do Instituto Médico Legal comprova que Carli Filho tinha 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue, o que é considerado crime de embriaguez ao volante. Carli renuncia ao cargo no dia 29.

Ago 2009 – Laudo do Instituto de Criminalística mostra que o carro do ex-deputado estava entre 161 e 173 km/h. O laudo é encaminhado à Delegacia de Delitos de Trânsito, que o indicia por duplo homicídio com dolo eventual. O Ministério Público denuncia o ex-parlamentar por duplo homicídio qualificado.

Set 2009 – O juiz Daniel Surdi Avelar, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, aceita a denúncia, mas invalida o exame de embriaguez, já que a amostra de sangue foi coletada sem a autorização do ex-deputado. Reportagem da Gazeta do Povo apura que o então deputado havia sido multado 30 vezes em seis anos, sendo 23 delas por excesso de velocidade. O deputado possuía 130 pontos na carteira e não poderia estar dirigindo desde julho de 2008.

Jan 2011 – A Justiça decide que o ex-deputado vai a júri popular. A defesa recorre ao TJ para reverter a decisão.

Jun 2011 – O TJ decide afastar os elementos que consideram o homicídio como qualificado, mas mantém a acusação de duplo homicídio simples com dolo eventual, e decide que Carli Filho vai a júri popular. A defesa anuncia que vai recorrer.

Fev 2013 - O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determina que o Tribunal de Justiça do Paraná reavalie se o exame de alcoolemia – realizado a partir de uma amostra de sangue de Luiz Fernando Ribas Carli Filho – poderá ser usado como prova no processo.

Mar 2013 – A decisão do STJ adia o júri popular, que estava marcado para o dia 26 de março, já que o caso só poderá ser julgado após o TJ-PR se manifestar sobre o exame.

Mai 2013 – O júri popular ainda não foi marcado. O processo se encontra no TJ-PR, já com pronunciamento da Procuradoria de Justiça do Estado do Paraná, que opinou pela validade da colheita do exame de alcoolemia. A previsão é de que o julgamento ocorra ainda no segundo semestre deste ano.

Fev 2014 – Por unanimidade, a 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) decidiu que o ex-deputado iria a júri popular.

Mai 2014 – Qualquer menção ao laudo de alcoolemia que comprovaria que o ex-deputado estadual estava embriagado no dia do acidente deverá ser removida do processo judicial. A decisão foi tomada pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Uma semana antes, outro recurso, no Supremo Tribunal Federal (STF), já havia sido negado. Com isso, a data para o julgamento poderia ser marcada.

Abr 2015 -O TJ-PR negou seguimento do recurso interposto pela defesa de Carli Filho para que o caso fosse julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A defesa ainda pode recorrer pelo instrumento de agravo.

CARREGANDO :)

Há seis anos, um acidente de trânsito na madrugada de uma quinta-feira tirou a vida dos jovens Gilmar Rafael Souza Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, 20 anos. No outro carro estava o então deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho, que ficou um mês internado em hospitais para tratar os ferimentos. Carli Filho renunciou ao cargo no legislativo estadual pouco tempo após o acidente. No embate entre a defesa e acusação, o caso se arrasta na Justiça e, até agora, não há previsão de quando será o julgamento.

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A família Yared se pronunciou sobre o assunto nas redes sociais nesta quinta-feira (7). A mãe de Gilmar, a deputada federal Christiane Yared, escreveu um breve desabafo. “Vivemos a mais infame de todas as guerras, que tem levado a vida de milhares de brasileiros, e deixado o solo da nossa nação banhado em lágrimas, pois só nos restam lágrimas”, lamentou. Ela relembrou a madrugada em que foi avisada do acidente envolvendo o filho. “Gritamos todos os gritos, choramos todas as dores, vivemos a revolta, a aceitação e a saudade. Nossos sonhos desfizeram-se diante dos nossos olhos”, disse.

Já o pai do rapaz, Gilmar Yared, acredita que é possível mudar a realidade do trânsito violento no país. “O dia 7 de maio nos faz reviver os piores momentos de nossas vidas, mas também sinaliza à um futuro com menos violência no trânsito. A impunidade precisa cessar”, escreveu. Ele lembrou que, em três meses na Câmara Federal, Christiane já apresentou vários projetos de lei na área de trânsito, entre eles um que pune mais duramente pessoas que se envolvem em acidentes com morte.

Na justiça

O caso Carli Filho se arrasta na Justiça desde 2009. Em abril deste ano, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) negou seguimento do recurso interposto pela defesa do ex-deputado estadual para que o caso fosse julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A defesa ainda pode recorrer pelo instrumento de agravo. A defesa de Carli Filho já afirmou que vai recorrer, porque não concorda que esse seja um caso para júri popular.

Com a decisão, assinada pelo desembargador Renato Braga Bettega, Carli Filho pode ir a júri popular ainda em 2015 – conforme já havia sido decidido pelo TJ anteriormente. Em 2012, o TJ-PR já havia negado recurso da defesa do ex-deputado estadual, que pedia que o caso fosse julgado como duplo homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Isso evitaria que o ex-deputado fosse submetido a júri popular.

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O acidente

Carli Filho se envolveu em um acidente de trânsito em 7 de maio de 2009, em Curitiba, que resultou na morte de Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida. Em nova decisão, em 2014, a 1.ª Câmara Criminal do TJ-PR tinha encontrado, mais uma vez, indícios de que Carli Filho assumiu o risco de matar ao dirigir em alta velocidade.

De acordo com a denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), Carli Filho estava alcoolizado e trafegava em alta velocidade. Um laudo do Instituto de Criminalística apontou que o carro dirigido pelo ex-deputado estava entre 161 e 173 quilômetros por hora no momento da colisão com o automóvel em que estavam as vítimas. No ano passado, por unanimidade de votos o TJ-PR decidiu que o teste de alcoolemia de Carli Filho não terá validade. O exame, que teria registrado 7,8 decigramas de álcool, foi realizado sem o consentimento do acusado enquanto ele estava inconsciente no Hospital Evangélico, com amostras de sangue colhidas judicialmente do laboratório da instituição de saúde.