Nos últimos dois anos, a recepcionista Camila compareceu mais de 30 vezes à Delegacia da Mulher em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. A cada vez, levava novidades sobre o estupro sofrido por ela no dia 1.º de julho de 2004. Contudo, o processo de Camila onde consta o nome de seis acusados pela violência caminha para o arquivamento. Falta o essencial: a prova do crime. Dizendo-se ameaçada, ela só fez o exame de lesões corporais duas semanas depois, quando já não havia mais vestígios da agressão e do sêmen dos agressores.
A queixa de Camila (nome fictício escolhido por ela) não será a única amontoada nos arquivos das delegacias do estado. Em São José dos Pinhais, quase um terço dos 104 casos de estupro registrados desde janeiro de 2004 não foram adiante por falta de provas. O material tem de ser recolhido até 72 horas após a agressão. Depois, a vítima tem seis meses para decidir se faz ou não a queixa-crime. "Mesmo que não haja registro de queixa, o exame e a assepsia são importantes para evitar doenças sexualmente transmissíveis", diz a delegada Daniela Correa Antunes.
Se tivesse seguido esses passos, talvez Camila não tivesse de esperar tanto tempo por uma resposta. Segundo ela, o drama teve início numa festa de aniversário, quando colocaram dopante na bebida. Arrastada para a casa dela, logo em frente, Camila foi seviciada por seis homens no seu próprio quarto. Essa versão, diz Camila, é da namorada de um dos agressores, morto em dezembro num acidente de carro. Ela só não teria contado antes porque estaria sob ameaças do namorado. A testemunha mudou a versão semanas depois, segundo a delegada.
Camila acredita que a amiga tenha sofrido ameaças dos outros agressores para mudar o depoimento. "Chegaram a entrar na casa dela e a colocar uma arma na cabeça dela", diz. Hoje, a testemunha mantém seu endereço em sigilo. Camila diz que também teve de mudar de endereço por causa das ameaças. A intimidação teria começado logo depois que os acusados souberam que ela faria uma queixa-crime na polícia. Um deles era conhecido da vítima, o único de que ela se recordava. Ele trabalhava na mesma empresa em que Camila recém fora contratada como recepcionista.
Com medo, ela só foi duas semanas depois à Delegacia da Mulher. Fez a denúncia e recebeu a autorização para o exame de lesões corporais. A essa altura já não havia mais sinal da violência. O processo correu mesmo sem a prova material do crime. Com o passar dos dias, foi conhecendo os outros suspeitos do estupro. Há dez dias, deparou-se com um deles num supermercado de São José dos Pinhais. Camila estava com o marido e o filho de quatro meses. Ele estava com a mulher. O encontro casual resultou numa briga e todos foram parar na delegacia.
No dia seguinte, Camila e o suposto violentador encontraram-se na porta da Delegacia da Mulher. Ela ainda exibia no rosto as marcas da agressão. Agora, terá de esperar para ver se o Ministério Público acata o processo e o encaminha ao Judiciário, que só então dará o veredito.
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