Cascavel – O advogado Hélio Ideriha Júnior espera que o Ministério Público peça novas investigações para elucidar o confronto ocorrido dia 21 de outubro, na área experimental da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, em que um segurança e um líder sem-terra morreram. Ele defende os interesses dos seguranças e da empresa NF Segurança e denuncia que o inquérito conduzido pelo Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) teria sido parcial.

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No inquérito, protocolado na 1.ª Vara Criminal de Cascavel, foram indiciados nove seguranças e o dono da NF, Nerci de Freitas, por homicídio, formação de quadrilha e tentativa de homicídio. Segundo Ideriha, o Cope aponta no inquérito o nome do segurança responsável pelo tiro que teria matado o sem-terra Valmir Mota, o Keno, mas não dá o mesmo tratamento ao segurança Fábio Ferreira, também morto no episódio. Outros cinco sem-terra e três seguranças teriam sido feridos no tiroteio.

"Os seguranças reconhecidos pelos sem-terra foram citados. Mas os sem-terra que também foram reconhecidos pelos seguranças e que também estariam armados não foram citados", diz. O advogado lembra que a polícia sequer tentou localizar as armas dos sem-terra e disse que até a reconstituição da ocupação teria sido orientada pelos advogados que defendem os sem-terra.

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O único sem-terra indiciado foi o líder da Via Campesina, Celso Ribeiro, acusado de esbulho possessório ou seja, de ter invadido propriedade alheia.

O delegado Renato Figueroa, do Cope, responsável pelo inquérito, disse que a partir de agora outras informações só poderiam ser dadas pela Secretaria de Segurança. Nos últimos dias, o delegado reiterou várias vezes que após concluir o inquérito iria estudar a possibilidade de entrar com medidas judiciais contra quem o acusou de parcialidade.

Os laudos da exumação dos corpos ainda não foram concluídos e devem ser anexados ao inquérito quando forem entregues pela perícia.

O inquérito foi encaminhado ontem ao Ministério Público e será entregue hoje à promotora do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), Fernanda Nagle Garcez. Ela terá 15 dias para se manifestar, oferecendo denúncia, pedindo o arquivamento do caso ou ainda pedindo mais investigações.

Um mês

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Cerca de 200 pessoas participaram ontem de manhã de um culto ecumênico na fazenda para lembrar os 30 dias da morte de Keno. Sem-terra de vários acampamentos se reuniram sob uma tenda armada no centro da área.

Presente na homenagem, o coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Celso Ribeiro, se recusou a fazer qualquer comentário, alegando que não conhecia o teor do inquérito e que os advogados do movimento é que acompanham o caso.

Durante o ato, os sem-terra também homenagearam o Dia da Consciência Negra, a fundação do MST e os militantes mortos em conflitos pela terra ao longo dos anos.