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A falta de opções políticas no Brasil faz o eleitor relevar os deslizes dos seus representantes. É a opinião do professor de ética e filosofia política da Unicamp, Roberto Romano. Para ele, o país transformou-se numa "federação de oligarquias", o que sustenta o perdão à corrupção e à falta de decoro parlamentar. Romano afirma que o Caso Renan só tende a complicar ainda mais a situação política e institucional do país.

Como o senhor avalia a situação de Renan Calheiros?

Do ponto de vista da investigação policial e do Ministério Público é uma situação bastante complicada, grave. Do ponto de vista do decoro parlamentar, é mais grave ainda. Ele não é um político qualquer, é o presidente do Senado. E o problema é que toda essa ação só tende a complicar ainda mais a situação política e institucional do país. O discurso feito por ele, mais a prestação de contas, são bastante difíceis de serem acreditados. É necessário que ele mostre algo mais apurado. Eu sou favorável que ele se defenda até a última instância. Mas dada à gravidade da situação no país, o mais correto seria um pedido de afastamento do cargo, enquanto as investigações se realizam. E uma exigência por parte dele, que o Conselho de Ética funcione da melhor maneira possível. O Sibá Machado (presidente do conselho) teve como primeira atitude adiar uma decisão e isso só aumenta as suspeitas sobre Renan, sejam elas bem fundamentadas ou não.

Dá para diferenciar a ética pessoal, do sujeito que trai a esposa, e a profissional?

É uma análise muito complicada. Qualquer indivíduo brasileiro, seja homem, mulher ou homossexual, tem direito à sua privacidade, está na Constituição. Talvez tenha havido imprudência por parte das autoridades policiais, que divulgaram dados pessoais da investigação sobre o senador. Discordo de qualquer devassa na vida privada de qualquer pessoa. É possível seguir sem esse nível de exposição. Faz mal ao Renan, à sua família, à jornalista e, principalmente à sua filhinha de 3 anos que virou foco dessa discussão toda.

O fato de que ACM, José Roberto Arruda e Jáder Barbalho seguem firmes na vida pública é uma prova de que o eleitor não se importa com a ética dos políticos?

Acho que é uma prova de que temos poucas opções políticas no Brasil. Não é que o eleitor seja idiota ou corrupto. Em cada um dos casos, existe uma relação do político com a sua região. São uma prova de que o Brasil, na verdade, é uma federação de oligarquias. O caso do ACM é o mais notório. Sem ele, muitos recursos federais não chegam à Bahia. É um defeito da estrutura política e orçamentária brasileira. No caso do Jáder, é preciso discutir a importância dele e do PMDB na governabilidade e na base do apoio ao presidente Lula no Congresso. Qualquer presidente estaria mal se ignorasse uma oligarquia desse porte, como a que ele comanda no Norte e Nordeste. No caso do Arruda, depois de Joaquim Roriz (ex-governador do Distrito Federal), até Átila seria uma opção maravilhosa. Não tenho simpatia pela mentira dele no Senado. Por outro lado, a prática administrativa do Roriz, que vendia tudo o que o estado tinha, era uma lástima. Ele voltou à cena porque não havia opção melhor.

Por que é tão rara a cassação de um senador?

Há três motivos. Um senador não é apenas um representante do voto popular, mas também dos governos estaduais. Se um senador é cassado, muitas negociações entre o governo federal e estadual entram em colapso. Por exemplo, a bancada de um estado Câmara na Câmara dos Deputados é muito grande. Ou seja, se um deputado é cassado, sempre é possível reatar essa comunicação. O outro fator: para o Senado vão os membros mais importantes das oligarquias regionais. Cassar um senador é comprar uma guerra com uma oligarquia, formada por várias empresas e famílias muito poderosas. O envolvido sofrerá retaliação. E, por último, é claro que há corporativismo. Principalmente porque ninguém quer perder o foro privilegiado. (AG)

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