A castração química em cães machos com o uso do Infertile único medicamento disponível no Brasil para o procedimento recebeu parecer favorável do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR). Esse tipo de esterilização passou a ser considerado como alternativa para controlar a reprodução de animais de rua depois que a proposta de criação do Plano Nacional de Controle de Natalidade foi alterada no Senado, em agosto. O procedimento médico, entretanto, gera polêmica.Assinado pelo presidente da comissão de zoonoses e bem-estar animal do CRMV-PR, Leonardo Nápoli, o parecer também estabelece o protocolo médico a ser seguido na castração química. O medicamento só deve ser aplicado depois da administração de analgésico e sedativo para minimizar o estresse no animal e evitar a dor durante e após o procedimento.
O documento recomenda ainda que os sintomas de dor e inflamação devam ser monitorados por um período mínimo de 15 dias após a aplicação do produto, usando as medicações necessárias para controlá-los. A aplicação e o acompanhamento devem ser feitos por veterinários. O parecer ressalta que, a partir do uso do Infertile, não foram obtidas informações conclusivas sobre o comportamento dos cães à agressividade, demarcação e defesa de território e libido. "Aspectos considerados relevantes no manejo de populações dessa espécie", diz o documento.
O conselho recomenda não considerar o método como única alternativa de esterilização animal e reforça que se investiguem os efeitos e as alterações fisiológicas, patológicas e comportamentais do cão castrado quimicamente. Na opinião da comissão do CRMV-PR, deve-se recorrer a uma avaliação criteriosa dos benefícios e custos da castração química, principalmente em relação ao bem-estar dos animais.
Para o autor do projeto no Congresso, deputado federal Affonso Camargo (PSDB-PR), o importante é que os animais não sofram. "Não sou veterinário, sou um protetor dos animais e contei com a ajuda das ONGs para fazer a proposta. O que vale para mim é a opinião delas", afirma. O projeto original estabelecia apenas a castração cirúrgica, vedando qualquer outro procedimento veterinário para fazer o controle de natalidade dos animais. Por causa da alteração sofrida no Senado, que retirou o termo "cirúrgica" do texto, o projeto de lei terá de ser novamente apreciado na Câmara dos Deputados.
A presidente da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba, Soraya Simon, diz que a mudança foi boa porque no futuro pode surgir uma alternativa à castração cirúrgica. "No momento, somos contra esse único método de castração química", comenta. Segundo ela, o procedimento é mais doloroso e mais caro que o convencional. "É cruel. O animal sofre com o processo de necrose dos testículos", diz.
Segundo o protocolo indicado pelo laboratório Rhobifarma, responsável pelo Infertile, não é necessário sedar o animal para aplicar a injeção de gluconato de zinco nos testículos. Basta administrar um anestésico 30 minutos antes do procedimento. O laboratório informa que testes feitos não identificaram sinais significativos de dor que obrigassem o uso de analgésicos. Em comparação com o grupo castrado cirurgicamente, a manifestação de dor teria sido menor nos cães esterilizados quimicamente. Outra observação do Rhobifarma é que a agulha usada é ultrafina, o que causa menos dor.