Um dos cativeiros onde o vendedor Dirceu Jacobi, 29 anos, torturou e manteve em carcére privado uma mulher de 20 anos, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, era uma casa geminada num conjunto residencial da Rua Evaristo da Veiga, no Jardim Modelo, bairro Rio Verde. A residência tem dois quartos, sala, cozinha, banheiro, área de serviço e garagem.
No local resta um cachorro branco, amarrado com um pedaço de corda, na porta de entrada, e marcas de grama queimada por veneno. Segundo vizinhos, Jacobi, que continua foragido, morou de aluguel na casa nos últimos 30 dias, o terceiro cativeiro usado por ele em nove meses.
Ontem à tarde, por volta das 15 horas, um veículo Santana, cor vinho, placa IGO-5490, encostou no local e recolheu os pertences dele. Eram dois homens e uma mulher, segundo vizinhos que pediram o anonimato. O grupo ficou cerca de uma hora na residência. "Eles levaram roupas, televisão e outras coisas", afirmou uma pessoa que assistiu a mudança.
Segundo a vizinhança, Jacobi levava uma vida discreta. "Eu pensava que ele vivia sozinho. Nunca imaginei que a mulher estivesse ali", disse um vizinho. "A gente via ele saindo e chegando de moto, às vezes com um Monza branco. Além disso, só tinha o entra-e-sai diário (alguns rapazes de moto, outros a pé)", afirmou outro vizinho. A notícia da tortura tomou força nas redondezas no domingo passado, quando vários policiais estiveram na residência.
A reportagem da Gazeta do Povo encontrou o cativeiro ontem à tarde, após entrevistar a mãe da mulher, uma costureira de 40 anos. Ela contou que a sua filha passou por três casas nos nove meses de tortura, no Jardim Osasco e no Rio Verde, ambos em Colombo. Emocionada e pedindo justiça, ela disse que a filha precisou se envenenar para receber ajuda e sair do cativeiro. Tudo indica que ela ingeriu o mesmo veneno usado na grama da casa. Ela foi socorrida no último dia 16 e levada para um hospital.
Segundo a mãe, Jacobi levou a mulher no dia 21 de junho do ano passado. Na época, ele estava com a prisão preventiva decretada por matar a irmã dela, Aline Manoeli Santos, 22 anos, ferir o concunhado e tentar matar a própria namorada. Mesmo assim, ele nunca deixou Colombo, onde sempre circulou com desenvoltura.
"Fiquei apavorada quando descobri que o homem que matou a minha filha mais velha estava com a outra", disse. "Agora, estou escondida com o meu marido. A minha filha está se recuperando numa clínica. Estamos com muito medo", afirmou a mãe.
O casal se conheceu na cidade há quatro anos. O rapaz, filho do dono de uma sorveteria, dizia-se apaixonado. Ele falava que era vendedor de produtos de higiene. Mas com o tempo, a família descobriu que ele seria traficante e, além disso, maltratava a companheira. A irmã mais velha foi morta no ano passado para não denunciá-lo.
A mãe disse ainda que a filha ficou no cativeiro durante os nove meses sob ameaças. Ele dizia que mataria o restante da família (pais, avós e outros parentes). No período, ela foi agredida e teria sido obrigada a manter relações sexuais com animais, comer fezes e submetida a outras aberrações.