Reformada em 2015, hoje a Casa Klemtz é sede da Escola Pública de Trânsito da prefeitura.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

A Casa Klemtz, na Fazendinha, virou o epicentro do debate eleitoral de Curitiba semana passada, quando a campanha do candidato à reeleição Gustavo Fruet (PDT) acusou o líder da corrida eleitoral Rafael Greca (PMN) de se apossar de parte do acervo do imóvel em 1995, quando era prefeito e o município adquiriu o terreno, onde instalou o Bosque da Fazendinha.

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Entretanto, nem sempre o poder público olhou com tanto esmero para a casa de valor histórico, marco da ocupação da Fazendinha no fim do século 19, que hoje abriga apenas duas das 29 peças de seu acervo original. Segundo inventário da prefeitura feito em 2001 e atualizado em 2013, 12 peças estão desaparecidas, incluindo os dois lavatórios e a cristaleira que Fruet afirma estar com Greca. O restante está distribuído em outras unidades da prefeitura.

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Foto de 2013, quando a Casa Klemtz era um dos imóveis recordista de pichações em Curitiba.  

Desde dezembro de 2015, o imóvel é o local de trabalho de parte dos servidores da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran). Mas nos cinco anos anteriores à instalação da Escola Pública de Trânsito (EPTran), unidade educativa do Setran, a casa ficou abandonada, mesmo sendo Unidade de Interesse de Preservação (UIP) desde 1982.

Reportagem da Gazeta do Povo mostra que em 2013 a Casa Klemtz era um dos imóveis mais pichados de Curitiba. “Dava medo passar por ali. Tinha pichação em todas as paredes e gente estranha entrando e saindo a toda hora. Hoje está bem mais seguro”, aponta a estudante Bruna Forin, 29 anos, moradora do bairro que frequenta o bosque desde a inauguração, mas, como grande parte da população da própria Fazendinha, pouco sabe da Casa Klemtz.

De estilo neoclássico, a casa foi erguida pelo alemão Franz Klemtz em 1896 no mesmo terreno em que havia instalado uma olaria seis anos antes e onde também mantinha uma chácara com cavalos e vacas leiteiras. A fábrica foi determinante para a ocupação da região próxima à foz do Rio Barigui, de onde era retirada a argila da produção de tijolos e telhas.

“A olaria foi um dos primeiros locais de trabalho daquela região, o que atraiu muita gente. Havia inclusive uma vila na propriedade dos Klemtz onde moravam os operários da olaria”, afirma a historiadora Talita Lichoveski, 29 anos, que cresceu no bairro vizinho, o Portão, mas que na infância costumava brincar na Casa Klemtz, alvo de estudo de sua tese de conclusão de curso na Universidade Tuiuti em 2009.

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Franz Klemtz e os netos na casa da Fazendinha na década de 20. 

A importância da casa em que Franz Klemtz e a esposa Bertha criaram os filhos é tanta, explica Talita, que uma das versões da origem do nome do bairro vem justamente da propriedade. “O Franz Klemtz costumava se referir à chácara como ‘a fazendinha’. Mas há também uma versão de que o nome teria vindo de outra propriedade, onde os tropeiros pernoitavam”, explica a historiadora.

Tijolos

A partir da década de 30, a produção de tijolos e telhas da empresa de Klemtz deu um salto. Além do aumento da demanda da construção civil com a expansão não só de Curitiba, mas de outras cidades, a produção também cresceu graças às invenções de seu proprietário, profissional da construção civil que chegou a participar da instalação da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá antes de abrir seu próprio negócio com o dinheiro de uma herança que ganhou com a morte de um parente na Alemanha.

Antiga estribaria da propriedade dos Klemtz onde hoje funciona um Liceu do Ofício da prefeitura.  

Primeira do Brasil a produzir telhas francesas, a olaria funcionava com um forno criado e patenteado pelo próprio Klemtz em 1921, capaz de queimar as peças de barro muito mais rapidamente. “Nessa época, a produção da olaria alcançou o cenário nacional, com tijolos sendo vendidos para outros estados, de tão boa qualidade que tinham”, enfatiza Talita.

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O curioso é que a derrocada da olaria ocorreu justamente por outra expansão da cidade. Conforme a historiadora narra em sua pesquisa, a empresa familiar não resistiu à especulação do mercado imobiliário, que no fim dos anos 70 viu no imenso terreno uma ótima área para um empreendimento que atendesse a nova ocupação do bairro.

Em 1978, a planta da olaria deu lugar ao condomínio Parque Residencial Fazendinha, que, apesar do nome, não tem em suas paredes nenhum tijolo produzido no bairro. Restaram a casa, a chaminé da olaria no pátio do condomínio e a dúvida de onde foram parar as 12 peças desaparecidas do acervo dos Klemtz.