No primeiro dia de julgamento da segunda fase do episódio conhecido como massacre do Carandiru, o perito criminal Osvaldo Negrini disse que a cena crime foi alterada antes da realização da perícia. Ele é o primeira testemunha de acusação a ser ouvida no júri desta segunda-feira.
"As celas foram limpas antes de realizarmos a perícia", afirmou Negrini diante dos jurados. Segundo o perito criminal, não foi possível fazer o trabalho no dia dos fatos por falta de luz e pela total ausência de higiene nas celas do 2º andar do Carandiru, onde foi registrada a maior parte das mortes."Quando entrei, os corpos estavam lá. Mas as evidências que eu tenho são os buracos de bala na parede", disse o perito.
Segundo Negrini, embora houvesse vestígio de disparos de metralhadora não foi possível encontrar nenhuma cápsula desse tipo de armamento no local. "Havia poucos disparos no corredor do pavimento. A maioria estava dentro das celas", afirmou.
No total, morreram 111 presos no massacre que aconteceu em 1992. Para facilitar o julgamento, o processo foi desmembrado em quatro júris. Os acusados foram divididos em grupos, de acordo com os andares em que atuaram no dia.
Os que começaram a ser julgados hoje eram do grupo da Rota (tropa de elite da PM) que entrou no 2º andar do complexo.
Naquele andar, 30 policiais foram acusados, mas três deles já morreram. Um quarto PM também foi retirado do julgamento e só poderá ir a júri quando a Justiça julgar o pedido de alegação de insanidade mental da defesa.
Dos 26 PMs que serão julgados, ao menos nove continuam na ativa, segundo o Ministério Público. Entre os policiais que estarão no banco dos réus está o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que foi comandante da Rota por dez meses, entre os anos de 2011 e 2012.
Sete jurados, todos homens, compõem o conselho de sentença. Todos os jurados sorteados passaram por exame com uma junta médica do Tribunal de Justiça. O procedimento visa atestar que eles têm condições de permanecer no julgamento até o fim.
Segundo o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, o julgamento deve durar até a madrugada de sábado, quando será lida a sentença.