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Sem o X, de Elon Musk, imprensa perde as principais fontes de informação
Sem o X, de Elon Musk, imprensa perde as principais fontes de informação.| Foto: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

A censura à rede social X, de Elon Musk, é um duro golpe à liberdade de imprensa. Não há outra plataforma com envergadura similar que reúna, de forma peculiar e de fácil acesso, as principais personalidades do mundo e suas publicações. Com a proibição de acesso, o Brasil sai dos debates essenciais e perde informações que são publicadas no X, em primeira mão, de interesse público.

No X estão chefes de Estado como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e ditadores, como Nicolás Maduro, da Venezuela. A rede também é usada por bilionários influentes como Bill Gates, George Soros e a fundação de Hansjörg Wyss, apelidado de "o novo Soros". Grandes acontecimentos, como a transmissão ao vivo da operação que matou o terrorista Osama bin Laden, ou a recente desistência de Joe Biden da corrida à reeleição, foram inicialmente divulgados por lá. Isso sem considerar os perfis no X dos grandes canais de notícias de diversos países, inúmeros analistas políticos e influencers.

Antes da suspensão, o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) intimou, por meio do X, Elon Musk, dono da plataforma, no último mês de agosto. A conta do STF marcou o perfil do empresário e o da Global Government Affairs do X para que fosse indicado um representante legal no Brasil.

“Estamos vivendo uma tensão no nosso país em que os próprios jornalistas vivem também. Como eles vão noticiar isso? Eles se sentem seguros para noticiar ou acessar uma ferramenta que está com o acesso completamente proibido?”, questiona Daniela Alves, cofundadora do GovChainLab, projeto de governança na área de tecnologia.

Hashtags do X propiciam mobilizações sociais que impactam

“As autoridades, normalmente, informam e lançam comunicados primeiramente no X, especialmente por essa rede social possuir esse fluxo de informação imediato e por ser uma plataforma muito fácil de ser utilizada, tanto para publicar, quanto para receber notícias. Isso faz com que a informação acabe fluindo de uma forma muito mais rápida e orgânica”, analisa Alves.

Alves também destaca o papel das hashtags, que nasceram no X e na plataforma têm uma força maior de mobilização social. Exemplo disso foi a hashtag #OGiganteAcordou, durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Mais recentemente, a hashtag #CriançaNãoÉMãe, impulsionada por movimentos e figuras pró-aborto, teve repercussão suficiente para intimidar deputados federais e frear a tramitação do PL Antiaborto.

Democracia depende do acesso à informação, diz cientista político

Marcelo Suano, doutor em Ciência Política pela USP, afirma que uma verdadeira democracia depende, antes de tudo, da capacidade dos cidadãos de refletirem sobre o contexto em que estão inseridos. “Para isso, você precisa buscar as informações. Depois, ter a possibilidade de divulgá-las, o que é a liberdade de expressão. Por fim, ter capacidade de articular e se associar com pessoas que compartilham visões semelhantes, baseada nessas informações. O X, de Elon Musk, hoje, é a principal rede que viabiliza tudo isso”, explica Suano.

Um exemplo notável do impacto do X foi a Primavera Árabe, quando cidadãos de países do Oriente Médio usaram a plataforma para organizar protestos contra ditaduras de seus países por meio de mensagens no Twitter, nome do X antes de ser vendido a Elon Musk. Os cidadãos também usaram a rede para informar à imprensa internacional o que estava acontecendo na Tunísia, no Egito e em outros países onde havia censura dos meios de comunicação.

Embora esses movimentos tenham ocorrido há mais de 10 anos, o agora X ainda desempenha um papel crucial na disseminação de informações em tempo real. O Twitter Files Brazil, por exemplo, que expôs decisões de censura de Alexandre de Moraes contra parlamentares, ex-parlamentares, figuras públicas e cidadãos comuns, é um exemplo disso. A exposição movimentou a imprensa brasileira no fim do ano passado, ainda mais porque o Brasil é o quarto país com mais usuários na rede.

“É o jornalista quem tem função de apurar informações e torná-las palatáveis à sociedade. Agora, quando existem bloqueios à sua liberdade de atuação, como a utilização de uma ferramenta como o X, a própria democracia fica em risco, porque estão sendo colocados empecilhos ao trabalho do jornalista. Ou seja, um jornalista não consegue atuar livremente se em seu país existem restrições à utilização desse tipo de ferramenta”, ressalta Alves.

Apoio de Musk à liberdade de expressão tornou o X diferente de outras redes sociais

Os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo são unânimes ao afirmar que não há outra plataforma que se compare ao X em termos de fluxo imediato de informações e influência política. Se Alves ressalta que a própria estrutura da rede é a responsável por torná-la insubstituível, Suano acrescenta que outro ponto considerável é a figura de Musk. Segundo Suano, a resistência de Musk em se curvar à censura imposta por figuras como o ministro Alexandre de Moraes e outras autoridades faz do X um espaço único para o debate público.

“Nós temos uma mídia tradicional que já demonstra claramente que possui um viés político. Em geral, os veículos tradicionais não vão conseguir suprir a suspensão do X. Além disso, outras plataformas de redes sociais também estão sendo controladas, como prova a recente declaração de [Mark] Zuckerberg”, comenta Suano.

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, admitiu recentemente que censurou perfis no Facebook por pressão do presidente Joe Biden. O CEO enviou uma carta com a confissão ao Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.

“O futuro está na governança descentralizada, modelo que possibilita a escuta de todos, como acontece no X depois de adotar as ‘notas da comunidade’. Precisamos defender o direito individual à liberdade de expressão e garantir que as pessoas possam se comunicar de forma adequada. Esse é o pilar fundamental da democracia”, conclui Alves.

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