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obra inacabada

Centro da Juventude no Litoral vira mocó

Estrutura de 2 mil metros quadrados está abandonada por desavenças entre prefeitura e empreiteira | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Estrutura de 2 mil metros quadrados está abandonada por desavenças entre prefeitura e empreiteira (Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

Quando terminar a greve dos professores, na volta às aulas, 1.374 alunos do Colégio Estadual Professora Carmen Costa Adriano, em Paranaguá, no Litoral do estado, já sabem o que vão encontrar no caminho: uma obra com mais de 2 mil metros quadrados de área construída, mas que não foi finalizada. "O espaço deveria oferecer cursos profissionalizantes, pista de skate, piscina, teatro, informática, atividades que dão formação para os alunos no contraturno escolar", diz o diretor do colégio, Manoel Valentim dos Santos Neto, o Bidu.

O local é um dos 32 Centros da Juventude construídos com recursos do Tesouro do Estado, através do Fundo da Infância e da Adolescência. A proposta é oferecer atividades educacionais, culturais e de lazer em municípios com alto porcentual de homicídios entre a população de 15 a 19 anos, que tenham registros de apreensões de adolescentes com drogas e internações em Centros de Socioeducação, além de renda per capita entre R$ 600 e R$ 1.400.

Em Paranaguá, a construção do Centro da Juventude foi interrompida um ano depois do início das obras, deixando como herança aos moradores da região um espaço para uso e venda de drogas. "Nós já buscamos auxílio entre vereadores, deputados estaduais, encaminhamos solicitações à prefeitura, ao governo estadual e ninguém se responsabiliza pela obra. Quem é o responsável?", questiona o diretor.

O Centro da Juventude é resultado de um convênio entre o governo do estado e a prefeitura. O acordo para execução da obra foi firmado em R$ 2,63 milhões, que seriam repassados ao município que, por sua vez, pagaria à empresa contratada para efetivação do projeto. Mas um impasse entre a prefeitura de Paranaguá e a empreiteira fez as obras pararem em 2011.

Quando a rescisão de contrato foi solicitada, pouco mais de R$ 580 mil haviam sido repassados à Cima Engenharia, que havia concluído 24% da edificação. Mas a empreiteira afirma que o valor acordado é de R$ 2,43 milhões. "O serviço executado quando da decisão de paralisação era superior ao valor recebido", diz Leandro Cima, diretor técnico da empresa.

Paranaguá não é exceção. Irati, Prudentópolis, Guarapuava e Londrina também integram a lista das cidades que, depois de cinco anos, não têm acesso aos benefícios do projeto. Para retomar as obras, é necessário que os municípios apresentem certidões negativas de dívidas com o governo do estado, que avalia se serão necessários novos investimentos. A prefeitura de Paranaguá informou que, para regularizar a situação, falta apenas uma certidão, que já está sendo analisada pelo Tribunal de Contas do Estado.

O terreno escolhido para a construção do centro mede quatro mil metros quadrados e servia para aulas de educação física e campeonatos de futebol amador. "A quadra coberta que está ali se deteriorando era nosso sonho. Quando chove, as aulas de educação física são dentro das salas", diz o professor Hermes Goldenstein Júnior.

"Eu organizava os campeonatos aqui e todo mundo se divertia. Hoje não existe mais o espaço onde as crianças brincavam. A insegurança que a construção traz é grande porque se tornou o lugar ideal para bandidos se esconder", lamenta Patrícia Conceição, que mora em frente à obra.

Projeto prevê unidades em 32 cidades do PR

Os Centros da Juventude foram projetados para atender até mil adolescentes entre 12 e 18 anos de idade em cada cidade. A princípio, 34 unidades seriam construídas com recursos do Tesouro do Estado, através do Fundo da Infância e da Adolescência. Mas, apenas 28 devem ser entregues nos próximos meses.

As cidades escolhidas para receber as instalações foram Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Londrina, Cascavel, Guarapuava, São José dos Pinhais, Paranaguá, Castro, Maringá, Prudentópolis, Almirante Tamandaré, Campo Largo, Piraquara, Campo Mourão, Pitanga, Irati, Apucarana, Lapa, Francisco Beltrão, Toledo, Pinhais, Umuarama, Telêmaco Borba, Paranavaí, São Mateus do Sul, Cambé, Palmas, Laranjeiras do Sul, Jacarezinho, Guaratuba, Ivaiporã e Curitiba (esta com três unidades).

Em 2009, cada Centro da Juventude custaria R$ 2,3 milhões, incluindo os gastos com equipamentos. Hoje, o valor médio já chegou a R$ 2,5 milhões. As cidades de Irati e Prudentópolis tiveram as obras paralisadas e retomadas recentemente. Guarapuava, Londrina e Paranaguá vão sofrer mudanças na forma de execução das obras, que serão retomadas no decorrer deste ano sob responsabilidade do governo estadual, através da Paraná Edificações, segundo a Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social (Seds). As outras cidades não foram citadas pela secretaria.

Perigo

Moradores dizem que violência aumentou por causa do abandono da estrutura

Segundo moradores que não quiserem se identificar, as obras inacabadas do Centro da Juventude de Paranaguá se tornaram um espaço ideal para praticar vários crimes e esconder objetos roubados.

"E ainda se tornou um local de drogas e atividades sexuais. Ao entrar ali, tem camisinhas e cadernos juntos. A preocupação é o que alguns alunos fazem ou são obrigados a fazer nesse lugar", diz o diretor auxiliar do Colégio Estadual Carmen Costa Adriano até o ano passado, Hermes Goldenstein Junior.

"No meio do ano, uma professora teve o vidro do carro quebrado e levaram a bolsa dela. Eu quase levei uma pedrada dentro da sala de aula, todo mundo ficou assustado", relata uma ex-aluna.

"Eu estava começando a aula quando um colega me disse que tinham estourado o vidro do meu carro. Minha bolsa estava no chão, no banco de trás, o vidro tinha película e mesmo assim o ladrão viu e roubou", conta a professora de Biologia Leda Vanhoni.

A professora diz ter certeza de que o ladrão estava sob efeito de drogas, consumidas provavelmente nas obras abandonadas do Centro da Juventude.

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