Marco zero e berço histórico da capital, a Praça Tiradentes, no Centro de Curitiba, vai mudar. O projeto de revitalização, estimado em R$ 1,2 milhão, promete manter o desenho original da praça. O piso, hoje seriamente comprometido pelas raízes de árvores antigas, será o principal ponto da reforma, que também vai incluir os equipamentos urbanos, iluminação e paisagismo.
As cinco grandes árvores na parte central da praça, do gênero ficus, devem ser mantidas. Para evitar que novamente o calçamento seja rachado pelas raízes, uma calçada mais espessa, com até 50 centímetros de altura, vai contorná-las. "Embora sejam árvores exóticas [a recomendação é que sejam plantadas espécies nativas], os especialistas consultados disseram que nós deveríamos, neste caso específico, mantê-las, porque estão em extinção. A calçada suspensa deve evitar que elas continuem a prejudicar o piso", explica o secretário municipal do Meio Ambiente, José Antônio Andreguetto. Segundo o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal do Paraná, Flávio Zanette, as medidas estão corretas. "Não é crime ecológico manter uma planta exótica não invasora", analisa.
O projeto, entretanto, é visto de maneira cética pelos comerciantes locais. "Há dez anos que ouvimos essa promessa. Espero que dessa vez aconteça mesmo", diz o engraxate Nivaldo Lopes dos Santos, 59 anos. "Se fizerem tudo isso mesmo, é uma boa", completa o funcionário de uma das bancas, Luciano Martins Pereira, 23 anos.
Além do descrédito em relação às obras, os comerciantes criticam a falta de itens considerados fundamentais no projeto de revitalização, que não contempla duas antigas reinvindicações: um banheiro público e um módulo policial. "Eu achei que ia mudar tudo. É pouca mudança para uma praça antiga e que há anos espera por uma revitalização. O que mais precisamos aqui é de um banheiro público", afirma o funcionário da banca de revistas Marco Zero, Joisel Fontoura, 41 anos. "Precisamos de banheiro e de um módulo policial", pede o taxista Adão Oliveira Nunes, 52 anos. De acordo com a prefeitura, embora estes equipamentos não estejam previstos agora, há estudos para que no futuro sejam implementados.
Outra reclamação de quem utiliza o local é o forte cheiro de esgoto, mas, segundo a prefeitura, a fiscalização contra ligações irregulares deve ser intensificada. As idéias de estacionamento subterrâneo e de adoção da praça pela iniciativa privada para a manutenção, que já chegaram a ser estudadas, foram deixadas de lado, pelo menos por enquanto. "A prefeitura fará a revitalização. Ela pode vir a ser adotada pela iniciativa privada no futuro", diz Andreguetto.
O início das obras ainda depende de prazos legais. Os projetos complementares devem ser finalizados dentro de 60 dias, quando será aberta a licitação. Depois de definida a empreiteira, a estimativa é de que as obras terminem em cinco meses. O tempo exato para a finalização vai depender, contudo, do que for encontrado durante as escavações da obra, já que a idéia é salvar todos os achados arqueológicos. "Não tem como predeterminar a data da inauguração. A obra é necessária, mas deve ser feita com responsabilidade e respeito à parte arqueológica. O trabalho será todo acompanhado por arqueólogos", garante Andreguetto.