Os tremores de terra que têm danificados imóveis e assustado os moradores de Londrina desde o mês passado possuem origem natural. Foi o que apontou o relatório preliminar divulgado no sábado (23) pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho foi feito em parceria com o Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
De acordo com o levantamento, o mais provável é que os abalos estejam ocorrendo em pequenas fraturas geológicas, em uma profundidade variando entre 100 e 250 metros. “Os estrondos ouvidos e sentidos em Londrina não são explosões e sim pequenos tremores de terra com foco na camada de rocha basáltica, abaixo da camada de solo. Os tremores são causados pelo deslocamento repentino – de apenas alguns milímetros – de bloco de rocha ao longo de fraturas geológicas”, explicou o estudo.
Foram registrados pelo menos dez abalos sísmicos na cidade desde o mês passado. Entre os dias 6 e 12 de janeiro, sete tremores com intensidades variando entre 1,1 e 1,7 grau na Escala Richter (que vai até 10) foram registrados pelos sismógrafos instalados em Londrina no início deste mês. O epicentro ocorreu nos bairros Jardim Califórnia e São Fernando, na zona leste.
Os três maiores abalos sísmicos ocorreram nos dias 14 de dezembro, 1.º e 21 de janeiro. Esses tremores foram identificados pela Rede Sismográfica Brasileira, atingido intensidades de 1,8 e 1,9 grau. Na última ocorrência, outras regiões da cidade também sentiram os tremores. O antigo fórum de Londrina, no Centro Cívico, chegou a ser evacuado.
Segundo os pesquisadores, regiões de interior de placa tectônica – como é o caso do Brasil – embora muito mais estável que as áreas de borda de placa, não estão totalmente livres de tremores de terra. Portanto, pequenos tremores como os ocorridos em Londrina podem ocorrer em qualquer local do país.
“Infelizmente, os tremores de terra ou terremotos são imprevisíveis, e não há como saber até quando esta atividade continuará ocorrendo ou se vai diminuir, pois não há como prever a evolução dos tremores. Tampouco é possível saber se ocorrerá algum tremor de magnitude maior do que os já ocorridos até agora”, alerta o relatório encaminhado para a imprensa.
Influência humana não está descartada
Embora os dados preliminares apontam causas naturais para os tremores em Londrina, a influência humana não está descartada. O geólogo e professor da UEL José Paulo Pinese informou que ainda são necessárias mais investigações para melhor caracterizar os diversos focos. Por isso, as estações temporárias instaladas em Londrina continuarão operando por mais algumas semanas. “Embora as características preliminares sejam de sismo natural, nenhuma hipótese de caráter induzido esta descartada”, ressaltou Pinese.
Entre as possibilidades de influência humana estão as obras realizadas pela Sanepar na zona leste de Londrina. De acordo com nota divulgada pela prefeitura, essa hipótese está sendo avaliada por meio de estudos de engenharia hidráulica. A Sanepar instalou sete medidores de pressão (dataloggers) na tubulação que leva água da Estação de Tratamento Tibagi até reservatórios da região. Esses dados serão apresentados para a prefeitura.
“Na segunda-feira [25], haverá uma reunião, com geólogos da Universidade Estadual de Londrina, e representantes da Sanepar e da Defesa Civil para análise do documento encaminhado pela USP e definição dos próximos passos”, informou o município pelo Facebook.
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