Sobrevivente
Quantos e como eram os assassinos?
Eram três ou quatro. Não vi rostos. Estavam todos encapuzados.
Como foi o momento em que eles entraram. O que vocês estavam fazendo?
Estava todo mundo vendo televisão. Ouvimos um barulho lá fora, mas não deu para saber direito quem era porque o som da tevê estava alto. Mas era um barulho lá da casa da vó. Aí meteram o pé na porta. Nisso eu pulei pra debaixo da cama e começaram os tiros. Esperei o último deles sair para botar a cabeça pra fora.
Quem mais sobreviveu?
Meu irmão que se enrolou no meio de um monte de roupas e três primos meus mais novos. Acho que não quiseram matar as crianças.
Você imagina qual a causa da matança?
Parece que o Marcos e o Edison tinham feito (roubado) uma casa nesse dia. Roubaram aparelho de som, DVD e uma motoserra. Trocaram por pedra e ficaram fumando lá. Mas não sei se foi vingança.
Você fumou?
Graças a Deus não uso isso. Eles ficavam todos bobos quando fumavam. Eu não fumo e não faço essas coisas. Trabalho empilhando madeira. Por causa de dois ali, morreram cinco.
A.R.S, 20 anos, perdeu um irmão e quatro tios na chacina de Campina Grande do Sul. Na delegacia de Campina Grande, onde era ouvido pela polícia, ele conversou com a reportagem da Gazeta do Povo.
Cinco pessoas foram assassinadas por volta das 23 horas de domingo, na Vila Sapo, próximo ao km 36 da BR-116, em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba. As vítimas estavam assistindo televisão em uma pequena casa de madeira quando foram surpreendidas por pelo menos três homens encapuzados. Quatro das vítimas Maria Dirce Rodrigues dos Santos, 40 anos; Marcos Rodrigues dos Santos, 23; Leandro Rodrigues, 18; e Edison Emanoel de Oliveira, 20 morreram na hora. Antônio Rodrigues dos Santos, 39, foi levado para o Hospital do Trabalhador (HT), mas não resistiu aos ferimentos. Rosicleri Rodrigues dos Santos permanece internada no HT em estado grave.
A delegacia de Campina Grande do Sul está investigando o crime. De acordo com a delegada Margareth Motta, vizinhos e testemunhas temem represálias e evitam falar com os investigadores. No entanto, segundo ela, já existe uma suspeita quanto a autoria e a motivação da chacina (veja entrevista ao lado). "Temos informação de que duas das vítimas tinham praticado um furto em Campina Grande, revendido a mercadoria e trocado por droga no domingo, dia do assassinato", afirmou a delegada.
Outras cinco pessoas, entre elas três crianças com idade entre 5 e 10 anos, sobreviveram à matança. Os assassinos inicialmente bateram na porta de Geralda dos Santos, mãe de Maria, Marcos, Antônio e Rosicleri. Depois deslocaram-se até o casebre dos fundos, onde já entraram atirando. Algumas testemunhas afirmam que minutos antes da matança os homens teriam circulado pela vila, identificando-se como policiais.
Na vizinhança, porém, pouca gente quis falar sobre o crime. Uma vizinha do casebre disse que escutou os tiros trancada no quarto. "Há umas semana atrás teve um outro assassinato. Mas no geral a vila é pacífica", disse. A maioria das casas estava com as janelas e portas fechadas. No velório de Edison, realizado em um templo evengélico da Vila Sapo, apenas pai, mãe, irmãs e uma vizinha guardavam o corpo. Segundo Paulo da Luz de Oliveira, pai do rapaz, Edison vivia na casa da família Santos. "Ele pousava muito lá. Estava amigado com a Rosicleri pelo que eu sei. Mas não sei que tipo de coisa rolava lá, se faziam coisa errada ou não. Só acho que quem fez isso foi gente de fora. Aqui na Vila ele era muito querido."
De acordo com a delegada Margareth, não havia confirmação sobre a ficha criminal de Edison, mas inicialmente o rapaz não tinha passagem pela polícia. Todas as outras vítimas já haviam sido detidas.
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