No bairro dos "Cardosos", onde quase todas as casas são ocupadas por famílias cujo sobrenome batiza o local em Cerro Azul, na Grande Curitiba, ninguém tinha energia elétrica até março do ano passado. Em abril, porém, as casas foram atendidas pelo programa Luz para Todos.
"Cinco anos atrás, eu tomava banho no rio e nem tinha banheiro. Construí um banheirinho, mas não tinha chuveiro porque não adiantava nada. Agora, tenho chuveiro elétrico, geladeira e um radinho para ouvir meus hinos [músicas evangélicas]", diz o lavrador Válter Rosne Cavalheiro, 48 anos. Antes da energia, ele conta que fritava a carne e guardava o que não comia em uma lata de ferro para armazenar por mais dias e evitar que estragasse.
Moradores da vizinha Rio Branco do Sul, o casal de aposentados Otília e Arcino da Silva, de 78 e 93 anos, respectivamente, só foram conhecer o que era energia elétrica há pouco mais de um ano. "Trabalhei quase a vida toda como camarada [trabalhador sem salário], em troca de casa e alimentação. Agora, estamos aposentados e finalmente não precisamos mais de lampião", sorri seu Arcino.
A chegada da energia também mudou a vida de Francisca Schineider, 40 anos, que morou 15 meses às escuras antes de improvisar um rabicho para compartilhar a energia elétrica de um vizinho. Detalhe: a casa dele fica distante mil metros da dela. "O rabicho era só para as lâmpadas e para a tevê, mas o fio quebrava sempre", diz. A casa de Francisca recebeu instalação elétrica há sete meses.
Meta alcançável
O Paraná caminha para ser o primeiro estado da Região Sul a efetivamente zerar a exclusão elétrica, segundo Fernando Gruppelli, gerente de Projetos e Obras da Copel. "No Sul, com certeza será o primeiro a zerar [a exclusão elétrica]. Mas é difícil comparar com outros estados, porque São Paulo, por exemplo, também tem um alto índice de acesso", explica.
Segundo Gruppelli, a maior parte das famílias ainda não atendidas vive em cidades onde o Índice de Desenvolvimento Humano é menor. "Apesar da Aneel já considerar a Copel universalizada, ainda temos domicílios sem luz no Vale do Ribeira e na Região Central do estado", afirma. Em parte pelo custo de instalação na zona rural, que é maior do que em uma área urbana R$ 7,7 mil contra R$ 5 mil.