Válter e o poste em frente de casa: banho agora só no chuveiro| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Programa deve ser prorrogado pela quarta vez

O programa Luz para Todos já foi prorrogado três vezes e deverá ter seu prazo de conclusão expandido mais uma vez no final do ano. Tudo por causa das 629.961 famílias que ainda vivem sem luz e não foram identificadas pelo Censo Demográfico de 2010. Até então o Ministério de Minas e Energia trabalhava com o número do Censo – 337.722 famílias ainda às escuras no país. Com isso, o programa lançado em 2003 no governo Lula, que já foi prorrogado em 2008, 2010 e 2011, deverá mais uma vez ser prorrogado, dessa vez de 2013 para 2014.

Lucro

Segundo Carlos Magno Andrioli Bittencourt, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, essas prorrogações são na verdade estratégias das distribuidoras de energia para aumentar o lucro. "A partir do momento que você prorroga, elas ficam sem compromisso de fazer no curto prazo. Com isso, lucram mais. É uma estratégia para manter o co-patrocinador [o governo federal]", afirma. (RM)

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Seu Arcino só foi saber o que é ter luz em casa aos 93 anos
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No bairro dos "Cardosos", on­de quase todas as casas são ocupadas por famílias cujo sobrenome batiza o local em Cerro Azul, na Grande Curi­­tiba, ninguém tinha energia elétrica até março do ano passado. Em abril, porém, as casas foram atendidas pelo programa Luz para Todos.

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"Cinco anos atrás, eu tomava banho no rio e nem tinha banheiro. Construí um banheirinho, mas não tinha chuveiro porque não adiantava nada. Agora, tenho chuveiro elétrico, geladeira e um radinho para ouvir meus hinos [músicas evangélicas]", diz o lavrador Válter Rosne Cavalheiro, 48 anos. Antes da energia, ele conta que fritava a carne e guardava o que não comia em uma lata de ferro para armazenar por mais dias e evitar que estragasse.

Moradores da vizinha Rio Branco do Sul, o casal de apo­­sentados Otília e Arcino da Silva, de 78 e 93 anos, respectivamente, só foram conhecer o que era energia elétrica há pouco mais de um ano. "Trabalhei quase a vida toda como ‘camarada’ [trabalhador sem salário], em troca de casa e alimentação. Agora, estamos aposentados e finalmente não precisamos mais de lampião", sorri seu Arcino.

A chegada da energia também mudou a vida de Francisca Schineider, 40 anos, que morou 15 meses às escuras antes de improvisar um rabicho para compartilhar a energia elétrica de um vizinho. Detalhe: a casa dele fica distante mil metros da dela. "O rabicho era só para as lâmpadas e para a tevê, mas o fio quebrava sempre", diz. A casa de Francisca recebeu instalação elétrica há sete meses.

Meta alcançável

O Paraná caminha para ser o primeiro estado da Região Sul a efetivamente zerar a ex­­clusão elétrica, segundo Fer­­nando Gruppelli, gerente de Projetos e Obras da Copel. "No Sul, com certeza será o primeiro a zerar [a exclusão elétrica]. Mas é difícil comparar com outros estados, porque São Paulo, por exemplo, também tem um alto índice de acesso", explica.

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Segundo Gruppelli, a maior parte das famílias ain­­da não atendidas vive em cidades onde o Índice de De­senvolvimento Humano é menor. "Apesar da Aneel já considerar a Copel universali­­zada, ainda temos domicílios sem luz no Vale do Ribeira e na Região Central do estado", afirma. Em parte pelo custo de instalação na zona rural, que é maior do que em uma área urbana – R$ 7,7 mil contra R$ 5 mil.