Em cima, uma mulher agita seu cabelo. Em baixo, o computador recria o movimento| Foto: Reprodução - G1

No coração do Batel, mais especificamente na Praça Miguel Couto (a pracinha do Batel), funciona há 38 anos uma das mais tradicionais bancas de jornais de Curitiba, ponto diário de passagem e informação para centenas de clientes. Depois de quase quatro décadas no "comando do navio", o casal Ingomar e Rosângela Heidorn, com 62 e 48 anos, vão desembarcar para dar espaço aos filhos. "Estou indo, mas deixando o coração na banca. Isso aqui é a paixão da minha vida", conta Rosângela.

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Em pleno regime militar, em 1969, o então mecânico Ingomar se deparou com a proposta de um taxista de receber uma banca de revistas em troca do conserto de dois carros. A oferta soava estranha para o catarinense de Indaial, mas a curiosidade o levou até o local. "Não era o Batel famoso. Uma banca de praça, fora do Centro, não parecia um bom negócio. Mas aceitei", relata Ingomar. A partir de então começou a se dedicar a uma nova profissão.

No primeiro dia de trabalho na banca, Ingomar acordou às 4 horas, buscou os jornais nas distribuidoras e, de ônibus e com sacolas, levou-os até a banca. O expediente começou às 6h30 e estendeu-se até 22 horas, à luz de lampião. Essa foi a rotina de dois anos do ex-mecânico, até comprar seu primeiro carro – o que facilitou apenas o transporte, porque o horário continuou o mesmo. Depois de mais cinco anos, em uma viagem para Santa Catarina, conheceu Rosângela.

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Com o tempo, a banca de dois metros quadrados, que mais parecia um armário de zinco, aumentou oito vezes de tamanho, ainda pequeno para a infinidade de títulos de jornais, revistas e livros expostos em seu interior – outro número difícil de calcular, mas que passa dos 2 mil títulos.

O dia seguinte à morte do presidente Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, foi o mais marcante na vida do casal. "Os clientes davam voltas na banca. Tive de buscar mais jornal e vender em um trailler", recorda Ingomar. Eles venderam 3 mil exemplares da Gazeta do Povo naquela segunda-feira – dia em que normalmente são vendidos 50 jornais.

A clientela tornou-se fiel à banca que sempre abria (e abre) aos sábados, domingos e feriados. "Os motivos para vir quase todos os dias aqui são: o bom atendimento, a banca estar sempre aberta e ter tudo o que a gente procura", afirma o médico Antônio de Mattos, cliente há 31 anos. O segredo do sucesso? "Atender bem a todos os clientes e não deixar faltar mercadoria", revela Ingomar, que diz também que continuará fiscalizando os filhos. O casal vai cuidar agora de um pesque-pague na divisa com Araucária.