Berço de Rondônia e capítulo importante da história do país, a estrada de ferro Madeira-Mamoré, construída no início do século passado para escoar a produção de seringais brasileiros e bolivianos, tenta resistir às ações da cheia do Rio Madeira, em Porto Velho.
O pátio ferroviário no centro da capital, que abriga um museu, galpões, oficina, estações e locomotivas, está quase todo submerso. Às pressas, o museu foi esvaziado para evitar um prejuízo histórico ainda maior.
Conhecida como "Ferrovia do Diabo", por causa das milhares de mortes registradas durante sua construção, a Madeira-Mamoré passava por processo de revitalização quando as águas do rio interromperam o projeto. O local será transformado num complexo turístico, que prevê, inclusive, a retomada das locomotivas em um passeio de 7 km.
A área é tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde 2006. Mas poderá até mudar de cenário pela primeira vez em cem anos para evitar novas possíveis cheias do rio.
"Estamos esperando a água abaixar para ver o tamanho do estrago. Não sabemos se o complexo vai continuar aqui. Quem sabe se, no futuro, haverá novas cheias?", diz Mônica de Oliveira, superintendente do Iphan no Estado.
O projeto é executado em parceria entre Iphan, prefeitura de Porto Velho e pelas usinas de Santo Antônio e Jirau, em uma das compensações acordadas por conta de possíveis impactos gerados no local.
Parte da restauração de galpões já havia sido concluída, mas poderá ter de ser refeita. Segundo o Iphan, as usinas continuam com a responsabilidade de restaurar e aparelhar o pátio ferroviário.
O órgão planeja iniciar uma campanha na cidade para que objetos perdidos da estrada de ferro Madeira-Mamoré sejam recuperados e doados ao museu. "Quando a ferrovia foi encerrada, muita gente levou objetos para casa, como recordação. A ideia é fazer com que isso seja doado ao museu", diz Mônica.
História para a TV
A ferrovia foi construída entre 1907 e 1912 pela empresa norte-americana Madeira-Mamoré Railway Company, após concessão do governo brasileiro. Fez parte da negociação diplomática de 1903, quando o Brasil aceitou construir a estrada de ferro para escoar a borracha produzida pela Bolívia em troca da área que hoje corresponde ao Acre e operou até 1966.
A história da ferrovia foi retratada no livro Mad Maria, de Márcio de Souza, e em minissérie homônima exibida pela TV Globo em 2005.
A maior dificuldade da obra era vencer as corredeiras do Rio Madeira, além das doenças tropicais que acometeram operários do mundo todo. O projeto interligava a atual Porto Velho ao município de Guajará-Mirim (RO), que faz fronteira com a Bolívia, e que hoje encontra-se ilhado por causa da cheia do rio.
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