Brasília Com uma vantagem de apenas 18 votos sobre seu adversário (261 contra 243), o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi eleito na noite de ontem o novo presidente da Câmara. A disputa com Aldo Rebelo (PC do B-SP), que tentava a reeleição, teve que ser decidida num segundo turno porque nenhum dos candidatos conseguiu o número mínimo de 257 votos na primeira votação. Em seu curto discurso após a vitória, Chinaglia usou um tom conciliador, dizendo que "as eleições estão acabadas" e cada deputado terá sua legitimidade respeitada. "As disputas vão acontecer, são próprias do parlamento e é assim que tem que ser. Quanto à presidência da Câmara, ela terá um dever e vai cumpri-lo: o da imparcialidade."
Aldo já estava saindo do plenário após a divulgação do resultado da eleição, mas voltou e, emocionado, cumprimentou Chinaglia, que já estava posicionado na Mesa como novo presidente da Câmara.
Raridade
O primeiro turno terminou por volta das 19h45, quando o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB- RN), que presidia a sessão porque Aldo se considerou impedido, anunciou o resultado. Por 21 votos, Chinaglia deixou de ser eleito sem a necessidade de uma segunda votação. O petista obteve 236 votos, contra 175 de Aldo e 98 de Gustavo Fruet (PSDB-PR). Três deputados votaram em branco.
Raridade na história de votações da Casa, ontem todos os 513 deputados registraram presença e 512 participaram da votação. O deputado Camilo Cola (PMDB-ES) sentiu-se mal e não conseguiu concluir o processo de votação. O novato Raymundo Veloso Silva (PMDB-BA) foi o último a votar e atrasou o encerramento da votação. Ambos chegaram a ser chamados várias vezes ao microfone para concluir a votação, mas só Veloso estava presente.
"Toda a Câmara atrás deles", brincou Eduardo Alves. Diante da demora de Veloso em concluir a votação, Eduardo Alves não se segurou: "Vê se ele está passando mal dentro da cabine, gente!"
A votação para os 11 cargos da Mesa Diretora teve início pouco antes das 17 horas e foi feita, pela primeira vez na Casa, com o auxílio de nove urnas eletrônicas, que foram elogiadas pelos deputados. Reclamações apenas para a localização dos pontos de votação, agrupados em um único espaço do plenário.
Articulação
Ilustre desconhecido na política nacional até ontem, Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi um dos principais patrocinadores da vitoriosa candidatura de Chinaglia à presidência da Câmara. De eminência parda, fez seu debut na Casa com o pé-direito. Homem forte do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, Vaccarezza ganha poder, assim como Dirceu e os petistas envolvidos no escândalo do mensalão: leia-se o ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (SP), José Mentor (SP) e Professor Luizinho (SP).
Novato em Brasília, Vaccarezza tem experiência quando o assunto é disputa pelo comando do Legislativo. Empurrado por Dirceu, foi ele que em 2005 arquitetou a manobra na Assembléia Legislativa de São Paulo e que fez à época o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) perder a presidência da Casa apesar de ter maioria absoluta.
Vaccarezza chegou ao ponto de levar um grupo grande de deputados para um resort em Atibaia (a 60 quilômetros de São Paulo) no fim de semana que antecedeu a disputa no Legislativo paulista. A idéia era evitar que os políticos fossem "cooptados" pelo Palácio dos Bandeirantes e, com isso, deixassem de votar em Rodrigo Garcia (PFL) candidato patrocinado por Vaccarezza, Dirceu e o PT para aderir ao candidato de Alckmin, Edson Aparecido (PSDB). A técnica surtiu efeito e Garcia derrotou Aparecido. Ontem, por sinal, assim como Vaccarezza, Aparecido também estreou em Brasília, só que de maneira bem mais discreta.
Com a vitória de Chinaglia, quem também ganha poder é Marta Suplicy. Ávida por um ministério no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-prefeita de São Paulo é ligada a Chinaglia que poderá, espera ela, "dar um empurrãozinho" para aproximá-la do Planalto.