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Depois de jogar duas pás de terra no possante, que já havia ido para o buraco, ele chamou todos os participantes do "velório" a entrar na mansão e ver cartazes sobre a campanha | Beto Martins/Futura Press/Folhapress
Depois de jogar duas pás de terra no possante, que já havia ido para o buraco, ele chamou todos os participantes do "velório" a entrar na mansão e ver cartazes sobre a campanha| Foto: Beto Martins/Futura Press/Folhapress

A cada 10, 4 se negam a doar órgãos

A Semana Nacional de Doação de Órgãos vai de 23/09 a 29/09, e busca, novamente, sensibilizar a população e fazer com que as pessoas percebam a importância de doar órgãos. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), 30 mil pessoas aguardam na fila de espera no Brasil. Na contramão, estima-se que 40% da população brasileira se negam a doar órgãos.

O órgão com maior procura é o rim, do qual 20 mil pessoas precisam de doação. Em seguida, vêm a córnea, necessitada por 6 mil pessoas; o fígado, procurado por 1300 pessoas; coração, com 200 pessoas; e o pulmão, com 170 na fila de espera.

Quem quiser se tornar um doador de órgãos precisa comunicar sua decisão à família. De acordo com a legislação nacional, a escolha deve ser consentida por familiares de até o 2º grau.

"Estou morto", diz o "conde" Chiquinho Scarpa, 62. Depois de uma semana propagandeando que enterraria seu carro, um Bentley de mais de R$ 1 milhão, ele pôde finalmente descansar em sua mansão no Jardim Europa, zona oeste de São Paulo, na tarde desta sexta-feira (20).

O enterro marcado lá para a manhã desta sexta era, na verdade, cena para promover a Semana Nacional de Doação de Órgãos, que vai de 23 a 29 de setembro. "Não era mentira, só um jeito de chamar a atenção para uma causa importante", diz Scarpa.

Depois de jogar duas pás de terra no possante, que já havia ido para o buraco, ele chamou todos os participantes do "velório" (com direito à coroa de flores e a chororô) a entrar na mansão. Na sala, revelou faixas em que se lia: "Absurdo é enterrar algo muito mais valioso do que um Bentley: seus órgãos".

Era o clímax de uma ação bolada há semanas, quando publicitários foram visitar Chiquinho na mansão onde ele nasceu e mora até hoje. Foi convidado pela agência que faz campanhas para a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos(ABTO) para simular um surto e dizer que, ao exemplo dos faraós egípcios, enterraria seu maior tesouro. "As pessoas já acham que sou louco mesmo, topo arriscar", disse na reunião.

A firma de propaganda produziu as fotos que o "conde" postava nas redes sociais, mostrando o carro e dando a entender que o botaria debaixo da terra. "Ele queria passar a imagem de maluco, fazia parte do personagem. Então colocamos a cacatua em uma das fotos, depois ele na escavadeira", diz Marcelo Reis, sócio da Leo Burnett Brasil.

A ação envolvia um risco, admite o publicitário. "Nenhuma marca poderia fazer isso para se promover. Funcionou neste caso porque era causa de saúde, não ofendeu as pessoas".

"Estava preocupado no começo, porque cada pessoa se manifesta de um jeito. Mas chamou bastante atenção e acho que o foco ficou na doação de órgãos", diz José Osmar Medina Pestana, professor da Unifesp e presidente da ABTO.

Em anos anteriores, o grupo havia chamado cantores ou jogadores de futebol para promover a semana. Como Chiquinho, todos fizeram o serviço de graça. "Foi um prazer", diz o garoto-propaganda, que recebeu dezenas de milhares de comentários ofensivos em seus perfis de redes sociais.

Uma mensagem mandada hoje de manhã à página de Facebook do conde resume a mudança que seguiu à revelação: "Parabéns! A primeira coisa que eu vou doar é minha língua, depois de usar ela para falar tão mal de você".

Nos últimos seis anos, dobrou o número de doadores de órgãos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. "E espero que dobre de novo nos próximos seis", diz o médico Medina.

"Porque a vida é nosso maior tesouro. Bem maior que um carro", diz o conde Chiquinho Scarpa, que já tirou o Bentley Spur do buraco - vai pedir que jardineiros o tampem na semana que vem.

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