A Rua Alcides Lisse, Jardim Paracatu, zona norte, deveria ter tudo para ser uma via comum de bairro - crianças brincando, cachorros sonolentos no meio da pista e moradores entrando e saindo das casas normalmente.
No entanto, há pelo menos um mês, a falta de infraestrutura desmotiva os moradores: um rasgo de asfalto quebrado, terra e entulho por mais de 200 metros, aberto pela torrente de água das chuvas de setembro.
A moradora Valdinéia Martins entrou em um financiamento e foi aprovada para se tornar mais uma proprietária de carro em Londrina. No entanto, teve que desistir: o temporal de 22 de setembro piorou o que já estava crítico e levou boa parte do asfalto da rua ladeira abaixo. Agora, na porta de casa, ao abrir o portão, vê diariamente um buraco de quase 2 metros. Há mais de um mês, de diferente, só a rua interditada por manilhas da Prefeitura. "Eu ia comprar um carro, mas desanimei. Não teria nem como sair da garagem de casa com ele", lamenta.
A conta do problema fica mais com o marido, carpinteiro, que continua a amargar horas perdidas em um trajeto da zona norte à zona sul de ônibus. Sem carro, para ir e voltar do trabalho leva quase quatro horas diárias dentro de coletivos.
Na tempestade, metade dos 4 mil tijolos comprados pelo casal, armazenados na calçada para uma reforma na residência, desceram rua abaixo e foram perdidos. O "milheiro" teve como destino o Ribeirão Jacutinga, no fundo do vale. "Nem tive o que fazer quando vi os tijolos no meio da rua indo embora com a enxurrada", conta. Agora, a moradora já se atormenta com as consequências da ruína do asfalto para a estabilidade da própria casa: "Está chegando perto do nosso muro".
O vigilante Lúcio Aparecido Borges Reis teve que improvisar e reconstruir a entrada da casa para que a filha, de 23 anos, com graves problemas de locomoção e saúde, consiga receber o atendimento médico de equipes do Programa Saúde da Família (PSF). "Três vezes por semana os médicos precisam entrar em casa com equipamentos de oxigênio e materiais pesados para o tratamento dela. Mas a situação está cada vez pior. Temo que em breve eles não consigam mais vir aqui", preocupa-se Reis. Segundo o morador, até uma Kombi foi arrastada na chuva. "Os bueiros não dão conta da água porque a rua concentra a chuva de vários locais, até da Avenida Saul Elkind vem para cá. E vem tudo por cima da pista, formando um rio que leva inclusive quem estiver na calçada", garante o vigilante.
Procurado, o secretário de Obras de Londrina, Sandro Nóbrega, alegou que, por estar fora da cidade, nada poderia falar sobre o caso.
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