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“Como o tempo ainda está feio, resolvi deixar tudo erguido. Tenho medo que [o alagamento] aconteça de novo.”  - Daniela Tuschimski, moradora da Vila Verde, na Cidade Industrial de Curitiba | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
“Como o tempo ainda está feio, resolvi deixar tudo erguido. Tenho medo que [o alagamento] aconteça de novo.” - Daniela Tuschimski, moradora da Vila Verde, na Cidade Industrial de Curitiba| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Macrodrenagem

Plano emergencial está pronto

O diretor do Departamento de Pontes e Drenagens da Secretaria de Obras Públicas de Curitiba, Augusto Meyer Neto, disse que o Plano Diretor de Macrodrenagem, que estava em fase de licitação, deve iniciar as ações até março deste ano. O programa está em processo de assinatura de contrato por parte da empresa vencedora.

Ações como melhora no escoamento das águas, revitalização das bacias hidrográficas e desassoreamento de canais estão entre as medidas propostas pelo plano para resolver o problema dos alagamentos em Curitiba. Segundo ele, a prefeitura fará a retirada de famílias de áreas consideradas de risco por meio da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab). "Com a saída dessas pessoas, poderemos entrar no espaço para melhor o canal de drenagem dos rios", explica.

Isadora RuppO registro de estragos causados pelas chuvas em janeiro praticamente dobrou em Curitiba na comparação com o mesmo mês do ano passado. O número de ocorrências (que englobam alagamentos, deslizamentos, erosões, quedas de árvores e destelhamentos) cresceu 96,2%, de acordo com a Defesa Civil municipal, passando de 158 em 2010 para 310 neste ano.

Já segundo a Defesa Civil Estadual, os casos específicos de alagamentos no Paraná aumentaram 13% em janeiro, passando de 157 ocorrências no ano passado para 178 em 2011. Curio­samente choveu menos neste ano em relação a janeiro de 2010: até ontem foram 326 milímetros, contra 361 no mesmo período do ano passado. Ainda assim, um número muito acima da média histórica para o mês, que é de 165 milímetros.

A explicação para o maior número de ocorrências, de acordo com o inspetor-chefe da Defesa Civil de Curitiba, Nelson de Lima Ribeiro, é o fato de as chuvas se concentrarem mais em algumas regiões da cidade do que em outras. "Ao mesmo tempo que despenca chuva em um bairro, tem sol em outro. Isso faz com que os problemas sejam maiores, pois não há divisão dessa quantidade em toda a cidade", diz.

Justificativa corroborada pela meteorologista do Instituto Simepar, Sheila Radmann da Paz. "Em janeiro passado, tivemos chuvas fortes em poucos dias. Neste ano, em praticamente todos os dias houve registros, o que faz com que o solo fique encharcado e aumente o número de deslizamentos e desabamentos". Boletim da Defesa Civil do estado aponta que, só no último final de semana, 90 pessoas foram afetadas por deslizamentos em Fazenda Rio Grande e Campina Grande do Sul, na região metropolitana da capital.

Em Curitiba, as quatro casas interditadas pela Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi) da prefeitura nos bairros Novo Mundo, Pinhei­rinho e Xaxim continuam fechadas. Já os moradores de outros 20 imóveis notificados por estarem em área de ocupação irregular, nas margens do Ribeirão dos Padilhas, deverão ser realocados, segundo a prefeitura. A Com­panhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) prevê o reassentamento de 466 famílias que vivem na área da bacia dos Padilhas em moradias construídas no bairro Tatuquara, com recursos do programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal.

Estragos

Além do Ribeirão das Padilhas, outros três rios da capital transbordaram no fim de semana: os rios Formosa (no Novo Mundo), Barigui (Cidade Industrial) e Belém (Uberaba). Famílias como a de Daniela Tuschimski, da Vila Verde (CIC), tiveram as casas alagadas mais de uma vez em janeiro – uma no dia 21 e outra no último domingo, mesmo estando distantes da beira do rio que passa nas imediações, o Barigui. "Antes, nunca tinha alagado aqui. Mas as bocas de lobo da rua não vencem mais. A água vem da rua como uma cascata", conta. Daniela conseguiu erguer fogão, geladeira e estante a tempo. Mas, mesmo após a água escoar e ela ter limpado a casa, não baixou os móveis. "Como o tempo está feio, resolvi deixar assim. Tenho medo que aconteça de novo".

O estoquista Adriano Bueno, que mora na Vila Uberlândia (Novo Mundo), conta que a água do Rio Formosa atingiu diversas casas da Rua Luiz Losso Filho. Segundo ele, não foi a primeira vez que o bairro sofreu com a enxurrada. "A água ficou na altura do joelho e ficamos até a madrugada limpando. Foi bem complicado, só um ajudando o outro para tentar salvar alguma coisa".

No fim da tarde de ontem, a chuva voltou a assustar, derrubando árvores e causando transtornos no trânsito nos bairros Batel, Água Verde e Portão.

Prevenção passa por educação ambiental

A solução para conter os alagamentos requer planos que englobem identificação de áreas com maior risco de inundação, a não ocupação de áreas de risco e educação ambiental. "As pessoas estão morando onde não deveriam e não existe planejamento para uso e gestão adequados do solo. Combinado com os fatores meteorológicos, isso gera problemas que não são de hoje", diz o professor do programa de pós-graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental da Universidade Federal do Paraná, Cristóvão Vicente Fernandes.

Segundo ele, os planos devem ir além de soluções tradicionais. "Para alagamentos, se faz aumento do fundo de rio e desassoreamento, por exemplo. É preciso inovar e implantar técnicas como coleta e armazenamento de águas pluviais, além de antecipar e prever os impactos, já que a cheia é algo que acontecerá sempre".

Para a professora do mestrado em Gestão Ambiental da Univer­sidade Positivo, Selma Aparecida Ribas, uma medida simples contra alagamentos é evitar a impermeabilização do solo nas construções. Ou seja: ao invés de colocar calçadas em todo o quintal, é recomendável manter o gramado no jardim. "Quando a infiltração é pequena, isso acelera muito o problema. As pessoas estão impermeabilizando tudo. Não se tem onde escoar água no centro da cidade, por exemplo. E, na beira dos rios, as áreas que serviriam para escoamento são ocupadas por casas". Segundo Selma, é preciso "voltar no passado" e reformular o que é área de ocupação irregular. "A urbanização excessiva é a principal responsável por esses problemas. É preciso redefinir onde é possível morar".

O inspetor-chefe da Defesa Civil de Curitiba, Nelson Ribeiro, diz que falta conscientização da população. "O rio poluído sofre mais risco de transbordar. As pessoas devem saber que deixar lixo em frente da calçada já é suficiente para trancar a entrada do bueiro. Reciclar o lixo e descartar corretamente já é um modo de se defender das enchentes."

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