Apesar das fortes chuvas que atingiram Curitiba nesta semana, as 28 ocorrências recebidas pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) no período de 25 a 29 de janeiro não refletiram a intensidade pluviométrica. Apenas uma situação preocupou os técnicos. Ontem, o muro de uma residência no bairro São Brás corria o risco de desabar sobre uma residência e parte do local foi interditada. Nos 14 pontos de alagamento registrados a água baixou rapidamente, impedindo maiores danos. Janeiro de 2010 registra recorde de chuvas nos últimos dez anos. Em 29 dias foram 345 mm, mais que o dobro dos 165 mm da média histórica.
Em todo o mês, apenas no dia 15 não choveu. Dados do Simepar apontam que a maior média pluviométrica ocorreu na última quinta-feira, com quase 50 mm. A previsão para a próxima semana é de mais sol; no entanto, a tendência de pancadas no fim do dia deve durar até o início do outono. Períodos mais secos, somente no início do segundo semestre, quando o fenômeno El Niño começará a perder força. O meteorologista Tarcísio da Costa diz que o último ano em que choveu tanto foi em 2002, com 217 mm.
O coordenador técnico da Defesa Civil de Curitiba, inspetor Nelson de Lima Ribeiro, explica que, como o solo está permanentemente úmido devido às frequentes chuvas, aumenta o risco de desmoronamentos e deslizamentos de terra. "Há chances de queda de muros e estruturas que não foram bem construídas. A população deve ficar atenta aos sinais e nos contatar assim que notar qualquer indício". Ribeiro afirma que é possível diminuir os riscos de alagamento se as pessoas evitarem colocar o lixo quando há chuva forte. Isso evita que os bueiros entupam e que ocorram alagamentos.
No Parque Barigui, a água chegou a subir cerca de 1 metro em alguns trechos, de acordo com a Guarda Municipal. Com as fortes chuvas, o terreno ficou encharcado, fazendo com que o rio e o lago transbordassem. Próximo à Rua Aluizio França, o trajeto ficou interrompido em função do alagamento. Em alguns locais, lixeiras, bancos e até o parquinho ficaram quase submersos.
A estudante Camila Costa Figueira, 21 anos, não se assustou com a chuva e foi correr. "Nunca tinha visto o parque assim. Trechos da ciclovia estão intransponíveis". O administrador de empresas Rodrigo Ribeiro vai ao local cinco vezes por semana e também nunca viu nada parecido. "Há uma parte onde um córrego se uniu ao lago. Não dá para passar nem distinguir".
Próximo ao Parque Tingui, a água entrou nas casas dos moradores da Rua Alberto Krause. No local, não passavam carros ou ônibus. Na residência de Rita de Cássia Grzybowski, a água chegou à lavanderia e às calçadas. "Precisamos que a prefeitura faça algo. O rio precisa ser limpo".
El Niño
A culpa de toda essa chuva, segundo meteorologistas, é do fenômeno El Niño. Com o superaquecimento das águas do Oceano Pacífico, as condições atmosféricas, como vento e pressão, mudam. Janeiro já é um mês tradicionalmente chuvoso e o El Niño potencializa as pancadas. "Se alguém tem de levar a culpa por isso, não é o aquecimento global", diz Josélia Pegorim, da Climatempo. Ela lembra que o fenômeno atinge o Brasil desde o inverno passado. Com um segundo semestre atípico, não houve estações secas. O solo ficou encharcado, potencializando os alagamentos e problemas decorrentes das tempestades. "A quantidade de água retida no solo agora deveria ser observada somente no fim do verão".