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Chuva leva a esperança de seu João

Seu João no que restou de sua casa: dessa vez, plantação de banana não resistiu ao granizo | Daniel  Castellano/Gazeta do Povo
Seu João no que restou de sua casa: dessa vez, plantação de banana não resistiu ao granizo (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Vale do Itajaí - Estava na plantação de banana a esperança do produtor João Martinho Richarts de voltar a ter três quartos, banheiros, uma sala de televisão e um barzinho na sua casa. Se a colheita deste ano fosse boa, em 2010 ele já estaria com a casa reconstruída no Morro do Baú, região rural de Ilhota, em Santa Catarina.

As fortes chuvas de novembro de 2008, que mataram 137 pessoas no estado, praticamente destruíram a residência do seu João, levantando e depois afundando o assoalho. A maior parte da construção teve de ser demolida, pois quartos e salas ficaram condenados. Seu João, então, decidiu se espremer e passou a morar no que sobrou: cozinha e parte da garagem.

A antiga cozinha agora também é sala e quarto. Não tem guarda-roupa. As roupas ficam em uma prateleira improvisada, que ele mesmo construiu. Antes tinha uma televisão em cada quarto, agora se contenta com uma que recebeu de doação. Precisou até de um colchão novo, que afunda quando se deita. Mas ao dormir sempre pensava que a plantação de banana iria ajudá-lo na reconstrução da sua casa. A antiga era uma das que mais chamava a atenção na rua: tinha chafariz, 28 pequenas estátuas no jardim e uma piscina de azulejos nos fundos.

O desejo foi interrompido pela chuva de granizo que caiu por cinco minutos no último sábado. Por causa das pedras de gelo que vieram em grande intensidade, seu João calcula que perdeu 30% da colheita de banana: "Se não tivesse estragado, em meados do ano que vem já tinha a casa pronta".

Por causa do granizo, Hilson Espig, também do Morro do Baú, perdeu 12 mil unidades de alface e 4,5 mil unidades de repolho verde. "Até o repolho, que é mais resistente porque fica fechado, foi perdido", diz. O prejuízo com todas as culturas totaliza R$ 29 mil. "Mal a gente estava se recuperando", lamenta.

Em novembro de 2008, a família de Hilson chegou a perder 41 mil pintinhos, com prejuízo de R$ 68 mil. Em janeiro deste ano, tudo foi plantado de volta. "No nosso caso estamos tentando fazer empréstimo com uma cooperativa de crédito rural, mas está difícil porque muita gente pediu", afirma Hilson.

Obras

O poder público também sente as consequências da chuva intensa. Reparos que estavam em andamento no Morro do Baú vão ter de ser feitos novamente, segundo o coordenador da Defesa Civil de Ilhota, Paulo Drum. Novas barreiras caíram e os acessos que tinham sido abertos serão refeitos, assim como seis pequenas pontes que passavam sobre riachos e a dragagem de rios. "A terra está encharcada e há ainda pontos de risco", diz o coordenador.

Em Blumenau, a chuva tem atrasado obras de recuperação dos estragos de 2008. As intervenções na ponte próxima à prefeitura, no Centro da cidade, estão paradas há 28 dias porque o nível do rio não baixa, segundo o secretário municipal de obras, Alexandre Brollo. "A chuva está atrasando o cronograma das obras em geral", afirma. "O tamanho da tragédia de 2008 faz com que se leve três anos para Blumenau voltar a ser o que era."

Brollo completa, no entanto, que as obras são pontuais e que a cidade está preparada para receber os turistas para a Oktoberfest, que começa hoje. A festa foi criada em 1984 com a proposta de levantar o ânimo da população, que na época estava abalada por uma grande enchente. Vem em boa hora.

Desabrigados

Ontem, até o início da noite, não havia chovido na região do Vale do Itajaí. A chuva que caiu até segunda-feira, porém, continuava fazendo efeito. No município de Itajaí cerca de 160 pessoas estavam em abrigos e outras 1,5 mil em casas de parentes e amigos. A maioria delas mora próximo ao rio e precisou sair. Irão voltar quando a água baixar.

O pedreiro Darci Cordeiro dos Santos passou duas noites em um abrigo, junto com outros 12 parentes, pois a água entrou nas casas. Ele perdeu a sua segunda geladeira para a chuva. A primeira tinha sido estragada no ano passado. "Se chove demais, a gente sai de casa", diz ele. E só vai saber o que sobrou quando volta.

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