Um homem morreu afogado, uma mulher desapareceu na água e 170 áreas ficaram alagadas em Curitiba e região metropolitana. Esse é o saldo da chuva de quatro horas das 16 às 20 horas que caiu anteontem na capital e em cidades vizinhas. Segundo o Simepar, choveu entre 50 e 80 milímetros (mm), dependendo da região perto da metade dos 145 mm previstos para o mês de março.
De quinta-feira para sexta-feira, a prefeitura de Curitiba registrou 83 desabrigados em três regiões (Portão, Cidade Industrial de Curitiba e no Boqueirão). Também choveu forte em São José dos Pinhais, perto do aeroporto e do Jardim Afonso Pena, mas não houve desabrigados.
A enchente no bairro Fazendinha, a segunda nos últimos 20 dias, ganhou contornos de tragédia após o aposentado Tomyde Suguy, 77 anos, cair no Córrego Formosa, próximo ao Conjunto Residencial Vila Formosa. Segundo familiares, ele saiu de casa num veículo Corsa com a esposa, Marta Maria Suguy, 69 anos, para levar para casa o pedreiro João Carlos de Lima, 36 anos. Um quilômetro adiante, no trecho entre a Rua Edivino Antônio Deboni e a marginal do córrego, o veículo caiu na água.
Segundo moradores que tentaram socorrer as vítimas, o carro foi visto dentro do córrego, aparecendo apenas o teto e os faróis acesos. "Eu e um rapaz corremos cerca de 400 metros, até próximo do ponto em que o carro parou após bater na ponte da Rua Carlos Klentz. Não tive fôlego, parei um pouco antes", contou o autônomo Adair dos Santos, 45 anos.
O estudante Douglas Roger de Lima, 16 anos, correu junto com o autônomo e ajudou a salvar o motorista (um motoqueiro e policiais do Batalhão de Trânsito também participaram do salvamento). Ele lembrou que quando o carro parou na ponte, as pessoas começaram a bater nos vidros e uma mão se estendeu. "Foi aí que puxamos o senhor. A esposa se agarrou na calça dele, mas a arrancou. Em fração de segundos o carro desapareceu", disse. O resgate ocorreu por volta das 18 horas, mas o veículo só foi localizado por volta das 22 horas, sem ninguém dentro.
Após o resgate, o aposentado foi levado para o Hospital do Trabalhador em estado de choque. Ontem em casa, Tomyde Suguy narrou para os familiares todo o drama que viveu no interior do carro. "Ele disse que estava na rua marginal do córrego quando foi arrastado pela água", afirmou um sobrinho. "O Tomyde conta que o pedreiro saiu do carro um pouco antes de ele ser resgatado, dizendo que sabia nadar", disse um pastor amigo da família.
O Corpo de Bombeiros encontrou o corpo do pedreiro, ontem à tarde, no Rio Barigüi, na altura da Rodovia do Xisto, entre Curitiba e Araucária, a cerca de dois quilômetros do Córrego Formosa. Ele era casado e tinha dois filhos, com seis meses e onze anos. As buscas para localizar Marta Suguy começaram ontem e devem continuar hoje. A família colocou três botes para ajudar nas buscas.