Um quarto dos municípios paranaenses notificou problemas causados pelas chuvas que castigam o estado desde o último dia 19, segundo o último boletim da Defesa Civil, divulgado às 19 horas de ontem. As ocorrências mais comuns são enxurradas, alagamentos, deslizamentos de terra e erosão. Duas pessoas morreram (em Laranjeiras do Sul) e dez ficaram feridas. Ao todo, 109.509 pessoas foram afetadas em 100 município. Desses, 59 declararam situação de emergência. O decreto possibilita o acesso a recursos federais para investimentos em recuperação de infraestrutura e de socorro aos moradores atingidos.
Em União da Vitória, no Sul do estado, o Rio Iguaçu chegou a 6,65 metros de altura no final da tarde de ontem. A altura média do rio nessa região, em dias normais, é de 2,5 metros. Na cidade, a Defesa Civil contabiliza 285 pessoas desalojadas (que estão em casa de parentes e amigos) e 87 desabrigadas (que foram para abrigos públicos) em todo o Paraná, são 1.314 desalojados e 1.069 desabrigados.
A auxiliar de serviços gerais Roseli da Graça Santos, 52 anos, está abrigada há quatro dias no Estádio Municipal Antiocho Pereira. Ao lado, do marido, dois filhos e três netos, ela foi obrigada a deixar sua casa no bairro Navegantes. "A água começou a subir e não tivemos mais como ficar lá", relata. Ela conseguiu salvar algumas peças de roupa, o fogão, a geladeira e um aparelho de televisão. "Depois que a água abaixar eu vejo o que sobrou", lamenta.
Moradora do mesmo bairro, a aposentada Arlete Ramos Berton, 60 anos, acompanha com atenção o aumento do volume de água no rio, mas por enquanto não precisou deixar a sua residência. "A minha casa é um sobrado, então o perigo é menor. É claro que temos medo, mas aprendemos a viver desse jeito", revela. Segundo ela, quase todos os moradores da localidade têm barcos para quando ocorrem as cheias do Iguaçu. "Não tem outro jeito de se locomover quando a situação fica desse jeito", ressalta.
A manicure Ivonete Mazur, 40 anos, é uma das voluntárias que em períodos de enchente procura ajudar os moradores de União da Vitória. "Tenho que auxiliar os meus companheiros", diz.
Rodovia
A chuva também compromete o acesso a União da Vitória. A BR-476 (Rodovia do Xisto) segue interditada para caminhões no quilômetro 329, entre as cidades de Paula Freitas e Paulo Frontin, desde o último dia 21. Parte da pista cedeu e uma cratera dificulta o tráfego. Máquinas e operários trabalham no local para recuperar a estrada, mas não há prazo para a conclusão da obra. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, carros de passeio já conseguem cruzar o trecho sem precisar usar o desvio. Ao todo, nove estradas do estado seguem interditadas total ou parcialmente devido a alagamentos ou queda de barreiras.
Oito cidades catarinenses na região da divisa com o Paraná também decretaram situação de emergência por causa das cheias no Rio Iguaçu (veja infográfico). Segundo a Defesa Civil, 600 famílias precisaram sair de casa por causa de alagamentos e deslizamentos de terra nessas cidades. Elas estão em abrigos públicos ou casas de parentes.
Mortes, prejuízos materiais e perdas financeiras
William Kayser e Karen Faccin, da Gazeta Maringá
As duas mortes registradas no Paraná por causa da chuva ocorreram em Laranjeiras do Sul, no Sudoeste do estado. Mãe e filha morreram soterradas no último dia 21. A família morava nos fundos da empresa Galpão Agropecuário, localizada no bairro Nossa Senhora Aparecida. Marisa Terezinha Negrelli e Marcela Negrelli Azevedo, de 4 anos, não conseguiram escapar quando a encosta que fica próxima ao local deslizou. O pai, Celso Azevedo, saiu pela porta segundos antes do deslizamento porque o cachorro da família estava latindo muito. A prefeitura da cidade calcula R$ 3 milhões em prejuízos.
Em Douradina, no Noroeste do Paraná, os produtores rurais calculam o prejuízo. "Nosso município teve perda de estradas, gado, arroz, ovinos, equinos. Foram 25 mil sacos só em uma empresa", disse o prefeito José Carlos Pedroso. A propriedade do pecuarista Maurício Brey tem 552 alqueires e margeia o Rio Ivaí, cuja vazão está acima do normal. "Morreram pelo menos 2 mil bois. Perdi tudo o que eu tinha em casa. Todas as papeladas de estoque e contabilidade da fazenda, além de rações e os quatro tratores, que estão embaixo dágua", conta.
Em Ivatuba, também no Noroeste, 51 casas foram danificadas muitas delas inundadas pelas águas do Ivaí. A casa onde moram os pais da gerente bancária Michele Tauscheck foi uma das atingidas pelo alagamento. O terreno tem 5 mil metros quadrados e fica a 150 metros da margem do rio. Mesmo assim, Michele contou que a água ficou a um palmo do telhado. "Nossa casa ficou embaixo da água", disse. "Não tem nem como calcular o prejuízo. Perdemos eletrodomésticos, louças, roupas, armários. Temos uma piscina que foi atingida, além dos bichos que entraram dentro de casa."